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Persistência é um dos principais lemas de quem quer seguir carreira no balé. Para as crianças que enfrentam o câncer, a palavra também norteia suas histórias de luta contra a doença. Perseverança e busca por superação uniram, na manhã deste sábado, os pequenos pacientes do Instituto do Câncer Infantil RS, em Porto Alegre, e os integrantes da companhia Russian State Ballet, que sobe ao palco neste final de semana na Capital.
Na sala de recreação do Serviço de Oncologia Pediátrica do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, foi feita uma roda de cadeiras para acomodar o público. Sete crianças acompanhadas de pais e médicos observavam curiosas a movimentação dos artistas, que preparavam uma apresentação exclusiva para os pequenos.
- Eu já me vesti de bailarina para ir à escola. Minha saia era branca. Quando crescer, quero dançar - contou a tímida Kamila Michele Duarte, de seis anos, de Lajeado.
A mãe da garota, Floreni Flores da Silva, diz ser a primeira vez que a filha vai ver uma bailarina de perto. Como Kamila já tinha proximidade com o tema, a expectativa era grande.
- Para a minha filha, as bailarinas estavam só na televisão. Acho que esse tipo de ação é uma forma de estimular e distrair as crianças aqui no hospital - ressalta a mãe, que acompanha a menina no tratamento de um tumor na cabeça.
Mas não foram só as garotas que estavam ansiosas. Teilor Kauã Silva do Nascimento, 10 anos, mostrava-se animado. O maior contato com a dança tinha sido pela televisão, com destaque para o filme Ela Dança, Eu Danço, vivo na lembraça do menino.
- Eu via algumas coisas na TV, mas, às vezes, a minha irmã me puxava e chamava para dançar. Era legal - diz o garoto, que enfrenta a leucemia.
Durante 20 minutos, cinco mulheres e um bailarino realizaram quatro performances. Ao som de música clássica, os dançarinos mesclaram coreografias em quartetos, trios e solo. Os movimentos delicados e sincronizados prenderem o olhar das crianças. Como havia algumas bailarinas descalças, os pés calejados chamaram a atenção do menino Teilor.
- Acho que elas treinam bastante. É uma forma de se superar. Parece difícil, mas é muito bonito - diz.
Para Eduardo Galvão Pereira, de 10 anos, o que mais surpreendeu foi o jeito com que o grupo dançava, rápido e com vários movimentos.
- Eles devem praticar, pelo menos, umas 15 horas por dia - deduz o menino, que tem uma estrutura corporal pequena devido a síndromes e complicações enfrentadas desde o nascimento, além do câncer descoberto recentemente.
Quando questionada se gostou da apresentação, a menina Kamila seguiu tímida, mas não precisou nem falar. Olhou para a mãe, fez que sim com cabeça e abriu um sorriso de orelha a orelha.
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Visual despojado serve para aproximar artistas e crianças
Os bailarinos não vestiam a indumentária típica de balé, mas uma vestimenta casual. De acordo com Augusto Stevanovich, diretor da programação cultural da Rússia na América Latina, a ideia é evitar que se crie distância das crianças:
- Deixar as roupas especiais de lado é uma forma de se aproximar ainda mais, não formar uma barreira.
Sempre que possível, a companhia realiza apresentações como essa nas cidades por onde passa, diz o diretor. Anastasia Kazakova, uma das bailarinas russas, acredita que apresentar-se em hospitais é, ao mesmo tempo, difícil e inspirador.
- Podemos trazer alegria para essas crianças. É uma forma de se envolver e incentivar elas a terem persistência - conta.
Esse tipo de ação é encorajada pelo Instituto do Câncer Infantil, entidade que já assistiu mais de dois mil pacientes no Estado. Segundo a diretora Sylvia Foster, esse formato de evento é bem aceito entre as crianças.
- Música entra na alma da gente. A dança traz esse alto astral - ressalta.
Como ajudar o Instituto do Câncer Infantil RS
- Para voluntariado, apoio e parcerias é preciso entrar em contato pelo telefone (51) 3331-8704 ou pelo site www.ici-rs.org.br
- É possível doar diretamente pelo site, por meio do Pagseguro
- Além de doações em dinheiro, o ICI-RS também recebe alimentos, roupas, brinquedos, materiais de higiene, escolar e limpeza. Todas essas doações são repassadas aos pacientes e familiares assistidos pelo instituto
- O ICI-RS não possui mantenedores e, por isso, depende exclusivamente da colaboração da comunidade por meio de doação
- Em 1º e 2 de julho, o ICI-RS realizará o Bazar da Coragem na Sociedade Libanesa (Barão do Rio Grande, 10), das 11h às 19h, com entrada franca. Os artesãos irão destinar 10% do valor adquirido ao Instituto do Câncer Infantil para a finalização da obra do Centro Integrado de Apoio.