Foi às vésperas de uma festa em família que o mundo de Malu começou a desmoronar.
Dois dias antes de a jovem retornar de Porto Alegre, onde vive, para sua cidade natal, no interior do Estado, uma amiga da família recebeu um link pela internet.
Eram fotos de Malu desnuda, expostas em um site de acompanhantes de luxo.
- Eu não acredito que seja tu... - começou a conhecida. - Mas não tem como não ser... o corpo é teu... é tudo teu - continuou.
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Como seu rosto aparecia coberto, Malu jurou que não era ela. A mulher não acreditou, mostrou a foto para a família. Quando Malu chegou para visitá-los, os parentes nem falavam com ela. Queriam devolver os presentes que ela trouxe. Sua mãe só chorava.
A vida que há dois anos Malu mantinha em segredo em Porto Alegre começava a ser desvendada. Saíra do lugar onde nasceu para trabalhar e estudar na Capital. Ficou seis meses em uma empresa privada, começou a achar seu salário baixo demais. Soube por uma conhecida que poderia ganhar bem mais trabalhando em uma boate. Viu que era a chance de reunir dinheiro para terminar a faculdade.
Se deu bem, até que começou a trabalhar na casa de um casal indicado por um fotógrafo que fez seu ensaio sensual. A promessa era ganhar R$ 20 mil por mês. Parecia um ótimo negócio, mas aos poucos começou a perceber que caíra numa espécie de cárcere privado. Os chefes não queriam que ela saísse para fazer shows na boate onde costumava se apresentar. Cobravam aluguel de R$ 2 mil mensais. Quando decidiu sair de lá, começou a ser ameaçada. Diziam que ainda tinha uma dívida de R$ 600, que se não pagasse eles tomariam "providências". Como não voltou atrás, os donos mandaram as fotos para a amiga da família, que aparecia marcada em uma foto nas redes sociais.
Desde então, Malu caminha olhando para os dois lados, com medo de ser localizada. Mudou o visual, tentando dificultar sua identificação. Começou a fazer tratamento psicológico. A cada novo programa, teme que o antigo cafetão seja um cliente disfarçado. Registrou ocorrência policial em busca de maior segurança. O medo é permanente.
Dias antes de suas imagens se disseminarem pela cidade de menos de 20 mil habitantes, um ex-colega ligou e começou a chantageá-la:
- Muito bonitas as tuas fotos no site. Eu fico quieto se tu sair comigo, senão vou espalhar.
Mesmo com as negativas de Malu, os compartilhamentos continuaram. Até que seu então namorado recebeu as fotos pelo WhatsApp.
"Amor, o que tu tá fazendo?" - perguntou, em uma mensagem do Facebook.
"Tô em casa", respondeu.
"Fazendo quê?"
"Nada."
"Eu recebi umas fotos aqui."
"Que fotos?", desesperou-se.
O namorado disse que compreendia suas motivações, mas a relação não foi adiante. Malu conseguiu convencer uma parte da família de que as fotos não eram dela. Providenciou documentos com um amigo para comprovar vínculo empregatício em um estabelecimento comercial. Mas não foi a primeira vez que desconfiaram de suas desculpas. Há pouco mais de um ano, um ex-namorado chegou a segui-la pela noite. Escondeu-se atrás de uma árvore e deu de cara com ela saindo de uma boate na Cidade Baixa. A família ficou sabendo dos rumores, mas na época Malu conseguiu contornar. Desta vez, com a reincidência, as fotos e a popularização da internet móvel, ela se vê cercada de todos os lados. Sente o universo paralelo que inventou para si mesma se desmanchar.
- Chega uma hora em que tudo estoura. É um dinheiro fácil de ganhar e fácil de perder. Uma amiga me dizia que é um dinheiro amaldiçoado. Tu ganha fácil e gasta tudo porque amanhã tu vai ganhar de novo. Mas muitas gurias se perdem no caminho - reflete.
Ainda assim, Malu não desiste. Faz planos de se casar e ter uma família, mas diz que só vai parar depois de juntar dinheiro para pagar toda a faculdade. O sonho é fazer um concurso e se tornar servidora pública.
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"Viver uma vida dupla não é fácil. Fico pensando quem é uma, quem é outra. A "Maria Eduarda" pensa na família, a Malu pensa no dinheiro. Eu sou as duas em uma só." Malu