
Pode causar estranheza o fato de gaúchos viajarem ao estrangeiro para suar pelos outros, se também há crianças doentes, mulheres vítimas de abusos e animais em perigo de extinção no Brasil. Mas há fatores que explicam o voluntariado social lá fora. O principal é a possibilidade de aprender novas culturas, conhecer lugares esquecidos e agregar uma experiência de maior impacto.
Outro argumento é de que, nas regiões mais atrasadas do planeta, faltam braços para ajudar quem precisa. Pensando assim, o analista de sistemas Rodrigo Monteiro, 32 anos, girou o globo terrestre e apontou o dedo para a distante localidade de Ambedkar Nagar, em Jaipur, na Índia. Entre março e abril de 2012, atuou com crianças vulneráveis, adolescentes, mulheres sem profissão e quase analfabetas.
- Há muita pobreza, para todos os lados, com pequenos nichos de riqueza. A impressão é de que não se vê classe média - relata.
Rodrigo se mimetizou à comunidade indiana. No turno da manhã, reparava crianças, dava aulas de inglês básico e, sobretudo, brincava para entretê-las. No almoço, junto aos moradores locais, comia uma vianda do típico chapati - massa similar à panqueca -, com legumes e batatas, usando as mãos na ausência de talheres.
De tarde, já estava a postos nas tarefas com adolescentes e mulheres, o que aprofundou o entendimento sobre os costumes da Índia. Percebeu que elas, quando solteiras, podem vestir calça jeans e cumprimentar os homens na rua. Depois de casadas, devem cobrir pernas e braços com o sari, e somente o marido pode se dirigir a outro homem.
- Elas iam para aprender uma profissão, corte e costura, ter alguma atividade - diz Rodrigo.
A organização dos países que necessitam de voluntários também influi na procura pelo Exterior. Criam programas específicos, tanto humanitários quanto para a proteção à natureza. Na Índia, Rodrigo só não gostou da sina de elefantes e camelos domesticados, que são utilizados como táxis de quatro patas e cargueiros de aluguel. Mas voltou contente com as lições trazidas na bagagem, sentindo-se mais apto para ser um voluntário permanente.