
Vanessa Tobias explica sua profissão com uma analogia. Para ela, o coach é como um engenheiro. Quando queremos construir uma casa, compilamos as ideias através de recortes de revistas, lembranças de viagens, fotos e desejos guardados na memória. Mas precisamos de um profissional para ajudar na execução do projeto, na transformação do sonho em realidade, nas adequações para que a construção se materialize como imaginamos.
A profissão está mais em alta do que nunca, e há uma profusão destes técnicos no mercado. Saiu da seara corporativa para contemplar outras áreas do comportamento humano.
- O coaching é um processo que, normalmente, tem a presença de dois personagens. O coach é o profissional que tem a técnica; o coachee tem o sonho. Nessa relação, desenha-se o projeto. O coach não dá respostas, é um processo em que, se fazendo perguntas, a pessoa se torna responsável pelas próprias escolhas - define Vanessa, 30 anos, mestre em Administração de Empresas e criadora do único método de life coaching em grupo do Brasil.
Muitas vezes atrelado ao meio empresarial, o coaching ganhou variações de atuação ao longo das últimas décadas. O coaching de vida é um deles. Nesta era midiática, as cobranças, principalmente as internas, exigem realizações pessoais e profissionais que nem sempre são fáceis de alcançar.
- É filosofia pura, fazer pensar quem é você, o que você quer da vida - observa Vanessa, que atende homens e mulheres do Brasil inteiro e deve iniciar, em breve, uma incursão por Nova York, cidade que é o paraíso dos coaches.
Para que esse caminho seja percorrido, sessões em grupo ou individuais estabelecem metas e resultados. É um processo rápido, com início, meio e fim. Além da reflexão, o cliente chega à conclusão do que quer mudar ou aprimorar, define as ações e, principalmente, como vai agir em direção aos objetivos.
Inicialmente, Vanessa conhece seus coachees através da Roda da Vida, uma espécie de questionário sobre assuntos como espiritualidade, trabalho e carreira, finanças, saúde, família, casa e ambiente e equilíbrio emocional, entre outros. O cliente deve apontar uma nota, de 0 a 10, para cada uma das áreas. A autorreflexão começa por aí.
Quando executivos procuram um coach, buscam desenvolver-se em suas áreas ou até mesmo um redirecionamento de carreira. O coaching de vida amplia a área de atuação. No escritório de Vanessa, os mais diferentes temas entram em pauta.
- Uma coisa é o que eles dizem e outra o que é verdade. Num primeiro momento, as pessoas falam quatro coisas clássicas: "meu problema é o tempo, não consigo ver a família, quero pedir demissão do trabalho ou quero fazer concurso". Poucos revelam, mas a maior parte vem por insatisfações familiares ou de um romance. Raros são os que de fato estão com problemas no trabalho - diz.
Questionada se o coaching pode dar errado ou não resultar no que o cliente deseja, Vanessa afirma:
- Não é para todos. Você tem que ter coragem para se desfazer das máscaras que não funcionam mais. Existem outras personagens interessantes para dar vazão. Um processo de coaching clássico só vai trabalhar futuro, não vai trabalhar passado nem presente.
:: O que é
Coaching: metodologia que busca atender necessidades humanas, como atingir metas, solucionar problemas e desenvolver novas habilidades.
Coach: profissional especializado no processo de coaching. Pode ser considerado um treinador que assessora o cliente, levando-o a refletir, chegar a conclusões, definir ações e, principalmente, agir em direção a seus objetivos, metas e desejos.
Coachee: indivíduo que passa pelo processo de coaching.
Em busca do sonho
Aos 27 anos, Nicole Delcastanhel Martins se vê como um exemplo a ser seguido por outras mulheres. Durante muito tempo ela usou e abusou de vários métodos para deixar no passado os 115 quilos que a acompanhavam. Mas não resultavam no desejado. Ao passar pelo coaching, desenterrou um trauma de infância e descobriu que ali estava o cerne da questão.
- Eu estava infeliz com o meu corpo. Fui para o coaching por isso, o meu intuito era esse. Mas como a Vanessa trabalha com o coaching de vida, ela mexe com traumas da infância que te travam até hoje - revela, um ano depois do primeiro coaching.
Nicole Delcastanhel Martins usou o processo de coaching como auxílio na decisão de perder peso
As metas, um dos principais fatores para o sucesso do processo, se voltaram para o emagrecimento - ela mudou o manequim do 50 para o 42, o que refletiu em outros lados da vida, inclusive no trabalho como gerente de produção de eventos.
- Em menos de 10 dias eu emagreci quatro quilos. Não tomei remédio, fiz um processo específico, mas as ferramentas não são milagres. O coaching permite subir num banquinho e ver a vida de cima, ver o que está errado. Consegui ter um norte da minha vida - comemora.
Além do autoconhecimento tão alardeado, a motivação faz parte da concretização das metas. Com quase 30 quilos a menos, Nicole se viu incentivada até mesmo por estranhos. Publicou no Facebook uma foto de antes e depois e viu os likes e comentários bombarem. Encarou como uma autoajuda virtual.
- O que eu gosto de fazer que pode me ajudar? Ah, eu gosto de bike, então descobri onde posso praticar. E, claro, eu também não me privo de comer pizza, por exemplo, ou tomar uma caipirinha.
Uma forcinha para elas

O coaching ganhou tanto espaço nos dias de hoje que atua em áreas antes impensáveis. Há aqueles destinados para gravidez, aposentadoria e até mesmo férias. A florianopolitana Mariana Morena, 29 anos, é criadora de um método exclusivo para mulheres.
- As mulheres sempre se interessavam pela minha história. Fui notando que vinham muito mais mulheres do que homens me procurar no escritório. As mulheres estão cada vez mais buscando capacitação, mas é também pela identificação. Perguntavam: "Como você consegue, sendo casada e mãe de dois filhos, conciliar com outras áreas?"- comenta.
Essa história a que Mariana se refere também é anterior à nova profissão. Ela foi criada para trabalhar na empresa da família, mas mudou tudo na hora do vestibular. Começou Educação Física, mas logo se interessou por Naturologia.
Quando migrou para o coach, foi ao encontro de um expert no assunto, o psicoterapeuta e palestrante motivacional Jack Canfield, no México.
Mariana Morena, 29 anos, criou um método de coaching exclusivo para atender as mulheres

- Me surpreendi com o lado humanizado dele. Me parecia, antes de conhecê-lo, muito sério, muito fechado. E não foi nada disso. No encontro com ele e mais oito pessoas, trouxe muito o lado espiritual. Me encantei muito por isso, o que me permitiu ser do jeito que eu sempre quis - relembra.
A espiritualidade também está em sua Roda da Vida, assim como outras áreas. As mulheres que aparecem em seus encontros têm demonstrado que ainda não se sentem à vontade para determinadas atitudes:
- Há pesquisas que apontam, por exemplo, que os homens se candidatam a uma vaga quando acreditam que têm 60% das habilidades requeridas, já as mulheres somente quando acreditam que têm 100%. Na verdade, a gente tem que dar a cara a tapa.
Mariana, que também atende homens, revela que as pessoas a procuram por diversos fatores.
- Meu processo é baseado em autoconhecimento. A pessoa está insatisfeita com alguma coisa na vida dela. Às vezes, ela acha que é uma única coisa, mas na verdade são várias. Questões financeiras, amorosas e familiares estão entre as principais. Mas a pessoa não pode procurar como uma terapia.
Em relação ao excesso de coaches, ela tem buscado a regulamentação da profissão:
- Eu criei um grupo com os coaches da Grande Florianópolis. Tem um profissional em cada esquina e muita gente despreparada. Estou trabalhando para a regulamentação da profissão.
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Adeus, timidez
Paula Speck, 27 anos, chega para a entrevista em um charmoso café com um largo sorriso no rosto e disposta a falar.
- Nunca dei entrevista. Se fosse em outro momento, jamais estaria aqui conversando - comenta, lembrando que a timidez foi um dos fatores que a levaram ao coaching.
- Além disso, eu queria me planejar, o meu foco era planejamento de vida. Eu estava havia muito tempo estudando para alcançar outro ponto na carreira e a vida pessoal permanecia conturbada - recorda Paula.
O encontro com Mariana Morena foi ao deparar com um anúncio de jornal. Ela já conhecia autores do assunto, gosta de temas que falam de troca de energia, de autoconhecimento, de autoajuda. Depois de um fim de semana de imersão no processo, Paula começou a sentir as mudanças.
- Aconteceu comigo uma coisa que é difícil de explicar, de chegar em casa, chorar muito, de perceber que as coisas estavam mudando. Como me permiti ficar travada por tanto tempo? O autoconhecimento te dá um equilíbrio para poder começar a analisar a vida - define.
Aos 27 anos, Paula Speck começou a sentir as mudanças após um final de semana de imersão no processo de coaching

As pessoas perceberam, e algumas até acharam estranho essa "nova" Paula.
- Elas me perguntaram: "O que está acontecendo?". As amigas me ligam para saber, aquela vida previsível não existe mais. Agora, faço o que tenho vontade e não tenho que dar satisfações e ficar constrangida. Ao meu redor todas as pessoas notaram - finaliza, hoje de volta ao comando de 30 mulheres no escritório de uma construtora da cidade.
Dicas
1. Ame-se!
2. Faça o que lhe faz feliz, e não o que os outros esperam de você.
3. Conte com seus amigos e familiares.
4. Pare de culpar os outros por suas insatisfações.
5. Cuide de sua saúde.
6. Comece a olhar as diferenças sob outra perspectiva, em vez de se incomodar com elas.
7. Tenha consciência de seus talentos.
8. Acredite em si mesma!
9. Trace metas, descubra o que você realmente deseja e organize seus recursos (tempo, dinheiro, contatos etc.) para alcançá-las.
10. Sonhe, faça planos, mas lembre-se sempre de viver o presente.
* Fonte: Mariana Morena