O Inter está pagando o preço da convicção e da ousadia. Miguel Ángel Ramírez já se tornou alvo de muitas críticas por seu trabalho iniciado há menos de dois meses. A memória e o coração de grande parte dos colorados seguem ligados a Abel Braga. É justo com Abelão, mas precipitado para com Ramírez. Especular ou até querer uma nova mudança de comando é total exagero, por mais que se reconheça a necessidade de melhora da equipe ou equívocos do espanhol.
É extremamente natural a falta de paciência do torcedor, especialmente aquele que vive um jejum de títulos e esteve muito perto de quebrá-lo há pouco tempo. Tudo no Inter precisa dar resultado imediato, sob pena de sofrer uma detonação violenta de vozes influentes ou não do clube. Críticas são normais e merecidas. A ira se mostra injustificada. É bom lembrar que Abel, o hoje lembrado como injustiçado, virou debate quando foi contratado porque colorados exaltados e inconformados com a saída de Eduardo Coudet o achavam ultrapassado.
Miguel Ángel Ramírez comete equívocos e parece tentar algo que ainda é impossível de executar no Inter. O treinador tem dificuldade de convencer o torcedor de que Patrick e Yuri Alberto no banco é bom para o time ou que Zé Gabriel pode ser o sonhado defensor que sai jogando.
Aliás, ainda há a necessidade de provar que o garoto é zagueiro. Tudo isto, porém, ainda está na conta do pouco tempo de trabalho. Abel, no seu início, no ano passado, amargou eliminações na Copa do Brasil e na Libertadores e queda de produção no Brasileirão. Após um período de adaptação, ele e seu time mudaram o cenário.
A diferença contra Ramírez, além da sombra do técnico campeão do mundo e de maior número de jogos na história do Inter, é sua juventude e a proposta de mudança filosófica, algo que Coudet enfrentou em 2020. A necessidade para o atual técnico é dar um sinal de que as coisas tendem a melhorar. A amostragem até agora tem apenas um desenho de time bem definido, mas uma execução que precisa melhorar muito. Resultados serão obrigatórios para a defesa contra as cobranças mais ácidas. Só um bom desempenho, entretanto, é que justificará a aposta convicta dos dirigentes e que ainda merece prazo para trabalhar.