
Robert De Niro é um dos nomes em alta neste início de 2025. No final de fevereiro, a Netflix lançou a primeira série estadunidense protagonizada pelo ator de 81 anos, Dia Zero, na qual ele encarna um ex-presidente dos EUA que precisa voltar à ativa após um ataque ciberterrorista. Nesta quinta-feira (20), estreou nos cinemas The Alto Knights: Máfia e Poder, filme de Barry Levinson no qual De Niro interpreta dois personagens: os chefões do crime Frank Costello (1891-1973) e Vito Genovese (1897-1969).
Tão cedo o octogenário astro não irá se aposentar: há pelo menos cinco filmes e séries que estão em estágio de pré-produção ou pós.
Nascido em uma família de origem italiana no Greenwich Village, em Nova York, De Niro estudou interpretação no Stella Adler Conservatory e estreou no cinema fazendo um papel secundário em uma produção francesa de 1965, Três Quartos em Manhattan, de Marcel Carné. Seu primeiro destaque só viria oito anos depois, com A Última Batalha de um Jogador. Também em 1973, deu início à longeva e consagrada parceria com o cineasta Martin Scorsese, em Caminhos Perigosos.
Seu currículo inclui duas vitórias no Oscar, como melhor ator coadjuvante por O Poderoso Chefão: Parte II (1974) e como melhor ator por Touro Indomável (1980), e mais seis indicações aos prêmios de interpretação da Academia de Hollywood. Estes dois títulos estão entre os 20 melhores filmes que trazem Robert De Niro no elenco. Confira a minha seleção, em ordem apenas cronológica. Atenção: nem todos estão disponíveis no streaming.
1) Caminhos Perigosos (1973)

De Martin Scorsese. No seu terceiro longa-metragem, o diretor apresenta temas, rostos e cenários recorrentes em sua filmografia. Na região ítalo-americana de Nova York, gângster (Harvey Keitel) segue sua vocação criminosa consumido por um fervor religioso. Já seu melhor amigo, Johnny Boy (Robert De Niro), entra na mira do capo local por conta de suas dívidas e de seu comportamento irresponsável. O filme tem um dos antológicos usos de rock por Scorsese: ao som de Jumpin' Jack Flash, do Rolling Stones, o personagem de Keitel observa a entrada de Johnny Boy — com um sorriso no rosto e uma garota em cada braço — em um bar banhado por luz vermelha, em câmera lenta. (Para aluguel em Amazon Prime Video, Apple TV, Google Play e YouTube)
2) O Poderoso Chefão: Parte II (1974)

De Francis Ford Coppola. O segundo segmento da trilogia sobre a família de mafiosos intercala a infância e a juventude de Vito Corleone, nas primeiras décadas do século 20 (em interpretação de Robert De Niro), com as tentativas de Michael (Al Pacino) para expandir os negócios da família para Las Vegas e Havana, nos anos 1950. Foram 11 indicações e seis conquistas no Oscar: melhor filme, direção, ator coadjuvante (De Niro), roteiro adaptado, direção de arte e música original. (Paramount+ e Telecine)
3) Taxi Driver (1976)

De Martin Scorsese. Ganhou a Palma de Ouro no Festival de Cannes e concorreu em quatro categorias do Oscar: melhor filme, ator, atriz coadjuvante (Jodie Foster, que tinha apenas 13 anos quando atuou) e música original, em uma indicação póstuma de Bernard Herrmann, o mesmo de Cidadão Kane (1941) e Psicose (1960). Na trama escrita por Paul Schrader, De Niro interpreta Travis Bickle, um veterano da Guerra do Vietnã que tenta se recompor existencial e socialmente dirigindo um táxi pelas madrugadas de Nova York. O contato com o submundo da cidade desperta nele o isolamento e a revolta. Cada vez mais paranoico, Travis, ao mesmo tempo, se transforma em motor e vítima de um ciclo de violência, encarnando um amoral anjo vingador que vê numa prostituta de 12 anos, Iris (Jodie Foster), a chance de redenção. (Netflix)
4) O Franco Atirador (1978)

De Michael Cimino. Com três horas de duração, é um drama contundente sobre os traumas provocados pela Guerra do Vietnã em três amigos metalúrgicos da Pensilvânia, personagens interpretados por Robert De Niro (indicado ao Oscar de melhor ator), John Savage e Christopher Walken. Ganhou cinco prêmios da Academia de Hollywood: melhor filme, direção, ator coadjuvante (Walken, que brilha assustadoramente na cena da roleta russa), edição e som. (Para aluguel em Amazon Prime Video, Apple TV, Google Play e YouTube)
5) Touro Indomável (1980)

De Martin Scorsese. Em um preto e branco deslumbrante, o cineasta retrata a ascensão e a queda do pugilista Jake LaMotta (1922-2017), papel para o qual Robert De Niro treinou boxe durante um ano e, depois, engordou 25 quilos para encarnar o personagem na fase decadente. Tamanho esforço foi recompensado com um merecidíssimo Oscar de melhor ator. Touro Indomável tem uma das cenas mais impressionantes, a da luta pelo título contra Sugar Ray Robinson que consegue ser a um só tempo linda, violenta e repugnante. No troféu da Academia de Hollywood, venceu também em edição e concorreu ainda nas categorias de melhor filme, diretor, ator coadjuvante (Joe Pesci), atriz coadjuvante (Cathy Moriarty), fotografia e som. (Para aluguel em Amazon Prime Video, Apple TV e Google Play)
6) O Rei da Comédia (1982)

De Martin Scorsese. Escrito nos anos 1970, o roteiro de Paul Zimmerman foi visionário em sua sátira sinistra sobre a relação do público com as celebridades. Se hoje os fãs sentem-se "donos" de seus ídolos, a ponto de instituírem a cultura do cancelamento, em O Rei da Comédia um aspirante a comediante decide sequestrar o apresentador de um popular programa de entrevistas para ter seus 15 minutos de fama. Rupert Pupkin, o personagem principal, é interpretado por Robert De Niro, que, como em Taxi Driver, faz um sujeito que não sabe distinguir bem a realidade da fantasia — Scorsese brinca com a percepção do espectador, embaralhando momentos de delírio nos acontecimentos. Jerry Lewis, que, naquele começo da década de 1980, voltava a aparecer no cinema após 10 anos de ausência, encarna o comandante do talk show, Jerry Langford. O filme foi uma das referências de Todd Phillips em Coringa (2019), com De Niro no papel oposto, o do apresentador Murray Franklin. (Disney+)
7) A Missão (1986)

De Roland Joffé. No final do século 18, o padre jesuíta Gabriel (Jeremy Irons) vai para a terra dos guaranis, na América do Sul, com o propósito de converter os nativos ao Cristianismo. Rapidamente ele constrói uma missão, juntamente com Rodrigo Mendoza (Robert De Niro), um comerciante de escravos em busca de redenção. Merece destaque a trilha sonora composta por Ennio Morricone, ancorada pelo oboé tocado por Gabriel e combinando cantos litúrgicos, cordas hispânicas e elementos da cultura indígena. (Indisponível no streaming)
8) Coração Satânico (1987)

De Alan Parker. Robert De Niro faz o diabo, literalmente. Na Nova York dos anos 1950, em uma investigação para encontrar um cantor contratado por um cliente (De Niro), um detetive particular (Mickey Rourke) começa a se envolver com pessoas estranhas e situações macabras. (Indisponível no streaming)
9) Os Intocáveis (1987)

De Brian De Palma. Na Chicago dos anos 1930, o agente do FBI Eliot Ness (Kevin Costner) e seus companheiros (entre eles, Andy Garcia e Sean Connery, indicado ao Oscar de ator coadjuvante) empreendem uma caçada ao gângster Al Capone (Robert De Niro, assustador — a cena do bastão de beisebol se tornou antológica). (Para aluguel em Amazon Prime Video, Apple TV e Google Play)
10) Os Bons Companheiros (1990)

De Martin Scorsese. O diretor renovou seu olhar sobre o baixo clero da bandidagem adaptando um livro-reportagem de Nicholas Pileggi. Ray Liotta vive Henry Hill, sujeito que desde criança idolatra gângsteres proeminentes do bairro, como Jimmy Conway (Robert De Niro), Paulie Cicero (Paul Sorvino) e Tommy DeVito (Joe Pesci, vencedor do Oscar de ator coadjuvante). Seduzido por aquele ambiente de poder e glamour, o pequeno marginal ascende na organização e embarca numa viagem sem volta, que Scorsese retrata com maestria — do vocabulário (contaram mais de 300 vezes em que é dito o palavrão fuck), à encenação (o plano-sequência na entrada do clube noturno dos mafiosos é algo espetacular). (Max)
11) Tempo de Despertar (1990)

De Penny Marshall. De Niro foi indicado ao Oscar por este papel, que é daqueles que sempre oferecem o risco do exagero. Mas ele doma os excessos para viver o paciente catatônico que serve de cobaia para um médico (Robin Williams, encarnando personagem inspirado no neurologista Oliver Sacks) testar um novo tratamento. (Para aluguel em Amazon Prime Video, Apple TV, Google Play e YouTube)
12) Cabo do Medo (1991)

De Martin Scorsese. Incandescente refilmagem de um clássico de 1962 — os atores Gregory Peck, Robert Mitchum e Martin Balsam estão presentes nas duas versões, e Elmer Bernstein foi brilhante na reformulação da trilha sonora composta pelo lendário Bernard Herrmann. Indicado ao Oscar de melhor ator, Robert de Niro apavora como Max Cady, o psicopata estuprador que, ao sair da cadeia, busca vingança contra seu advogado de defesa (Nick Nolte). Juliette Lewis disputou a estatueta dourada de atriz coadjuvante, e o elenco ainda conta com Jessica Lange. (Para aluguel em Amazon Prime Video, Apple TV e Google Play)
13) Cassino (1995)

De Martin Scorsese. "Destino, ganância, vaidade, desatino, culpa, redenção. São muitas as causas que levam os grandes personagens de Martin Scorsese a trilhar por caminhos violentos", escreveu o jornalista Marcelo Perrone em ZH na época do lançamento em DVD de Casino, uma espécie de continuação espiritual de Os Bons Companheiros (1990). A ação nas ruas de Nova York se transporta para a desértica Las Vegas dos anos 1970. Como no título anterior, Scorsese adapta um livro-reportagem de Nicholas Pileggi e escala os atores Robert De Niro e Joe Pesci. Este último reencarnando o gângster brutal e de pavio curto, enquanto o primeiro faz Sam Rothstein, craque das apostas que acaba promovido a gerente de um grande cassino pelos mafiosos que comandam a jogatina, os políticos e a polícia de Las Vegas. Após escapar de um atentado, ele revê sua ascensão e sua desgraça, acelerada pela paixão por uma prostituta viciada em drogas, Ginger (Sharon Stone, indicada ao Oscar de melhor atriz) e pelos excessos do pouco confiável amigo Nicky Santoro (Pesci). (Amazon Prime Video)
14) Fogo Contra Fogo (1995)

De Michael Mann. Solenemente ignorado pelo Oscar, este filmaço policial apresenta o maior duelo já visto em Hollywood: Robert De Niro versus Al Pacino. Seus dois personagens só estão separados pela lei e pela ética: um é o ladrão Neil McCauley (De Niro), o outro é o policial Vincent Hanna (Pacino). O primeiro não vai hesitar em sacrificar inocentes em nome do bem pessoal; o segundo sacrificou a si próprio para proteger inocentes. McCauley será caçado por Hanna depois que um meticuloso e milionário assalto a um carro-forte termina em um banho de sangue. (Amazon Prime Video, HBO Max e Star+)
15) Jackie Brown (1997)

De Quentin Tarantino. Com um roteiro baseado em novela policial de Elmore Leonard, o diretor bebe na fonte do cinema blaxploitation, produzido e estrelado por atores negros dos EUA na década de 1970, para acompanhar a enrascada em que se mete uma aeromoça (papel de Pam Grier, veterana musa desse tipo de filme e estrela de Foxy Brown). Flagrada trazendo dinheiro ilegalmente, ela faz acordo com a polícia e trai um traficante, Ordell (Samuel L. Jackson). Robert De Niro encarna Louis Gara, um ex-presidiário que passa os dias fumando maconha e exibindo má vontade para cumprir as ordens de Ordell. (Amazon Prime Video)
16) Mera Coincidência (1997)

De Barry Levinson. É uma sátira meio premonitória: lançado um mês antes de estourar o caso Monica Lewinsky (a estagiária que se envolveu com Bill Clinton) e dos subsequentes bombardeios do Afeganistão e do Sudão pelo governo dos EUA, conta a história sobre uma assessora presidencial (Anne Heche), um consultor político (Robert De Niro) e um produtor de cinema (Dustin Hoffman) que fabricam uma guerra fictícia na Albânia para desviar a atenção da imprensa e do público de um escândalo sexual protagonizado pelo presidente em plena Casa Branca. (Para aluguel em Amazon Prime Video)
17) Entrando numa Fria (2000)

De Jay Roach. O enfermeiro Gaylord Focker (trocadilho intraduzível do personagem interpretado por Ben Stiller) passa um inferno quando a namorada, Pam (Teri Polo), o leva para conhecer os pais, já que mete os pés pelas mãos e o sogro (papel de Robert De Niro, tirando sarro de si próprio) não vai com a cara dele. Esta comédia deliciosa teve duas continuações, em 2004 e em 2010. (Para aluguel em Amazon Prime Video, Apple TV e Google Play)
18) O Lado Bom da Vida (2012)

De David O. Russell. A história acompanha a tentativa de readaptação à vida normal de Pat (Bradley Cooper), após oito meses internado para tratamento psiquiátrico. Em seu esforço de ressocialização, Pat aceita jantar na casa do amigo Ronnie, onde conhece a cunhada do anfitrião, moça tão desequilibrada quanto ele: Tiffany (Jennifer Lawrence) é uma jovem viúva conhecida pelo comportamento sexual promíscuo e pelo temperamento de cão. Indicado ao Oscar de ator coadjuvante, De Niro interpreta o pai de Pat, um apostador compulsivo cheio de superstições, que só pode assistir pela TV aos jogos do time de futebol americano Philadelphia Eagles: o torcedor fanático está proibido de ir ao estádio por já ter brigado com todo mundo. (Amazon Prime Video)
19) O Irlandês (2019)

De Martin Scorsese. Com 10 indicações ao Oscar, incluindo as categorias de melhor filme e direção (não ganhou nenhuma), é um parque temático do cineasta. Estão lá o painel histórico dos EUA e a violência endêmica da sua sociedade; o tormento espiritual, a culpa católica e a busca por algum tipo de redenção; o corpo e a alma, o pecado e a fé. Estão lá os gângsteres, não mitologizados nem glamorizados, mas os homens que precisam sujar as mãos. Estão lá os "bons companheiros" do cineasta, três dos atores que ele mais dirigiu: Robert De Niro, Harvey Keitel e Joe Pesci (concorrente ao Oscar de coadjuvante, assim como Al Pacino). De Niro interpreta Frank Sheeran, o Irlandês, sujeito que ganha a vida "pintando casas", o apelido insuspeito dado ao ofício dos matadores da máfia italiana. (Netflix)
20) Assassinos da Lua das Flores (2023)

De Martin Scorsese. O cineasta retrata a ganância e o racismo que levaram homens brancos a exterminar indígenas Osage, no Estado do Oklahoma, na década de 1920 — a investigação das mortes ajudou a consolidar o FBI, que tinha surgido naqueles tempos. Esse povo nativo tinha sido expulso de suas terras para uma região rochosa e infértil, mas eles acabaram descobrindo petróleo e enriquecendo. Leonardo DiCaprio interpreta Ernest Burkhardt, ex-soldado que é acolhido pelo tio, William Hale (De Niro, em uma atuação monumental que valeu indicação ao Oscar de melhor ator coadjuvante), o Rei, um sujeito de duas caras: posa de amigo dos Osage, mas na verdade só está interessado em se apossar da sua fortuna. (Apple TV+)
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