
Além de ser uma ficção baseada na história real de dois notórios gângsteres ítalo-americanos — Frank Costello (1891-1973) e Vito Genovese (1897-1969) —, The Alto Knights: Máfia e Poder (The Alto Knights, 2025) traz uma coleção de nomes associados a filmes e séries sobre mafiosos. O longa-metragem que estreia nos cinemas nesta quinta-feira (20) também marca o reencontro de veteranos de Hollywood que são velhos amigos.
O ator principal é Robert De Niro, 81 anos, ganhador do Oscar de coadjuvante ao encarnar o jovem Vito Corleone em O Poderoso Chefão: Parte II (1974), de Francis Ford Coppola, e parceiro do cineasta Martin Scorsese em Os Bons Companheiros (1990), Cassino (1995) e O Irlandês (2019). Em The Alto Knights, De Niro interpreta os dois personagens, Costello e Genovese, diferenciados pela maquiagem, pelo tom de voz e pelo ritmo da fala.
O diretor é Barry Levinson, 82, que concorreu ao Oscar por Bugsy (1991), filme sobre como o mafioso judeu Benjamin Siegel impulsionou a cidade de Las Vegas. Ele já havia dirigido De Niro em Sleepers: A Vingança Adormecida (1996), Mera Coincidência (1997) e O Mago das Mentiras (2017).

O roteirista é Nicholas Pileggi, 92, coautor dos roteiros adaptados de Os Bons Companheiros (pelo qual disputou o Oscar) e Cassino, ambos baseados em livros de sua autoria.
O diretor de fotografia é Dante Spinotti, 81, que trabalhou com De Niro em Fogo Contra Fogo (1995), de Michael Mann, e que colaborou com o mesmo cineasta em Inimigos Públicos (2009), sobre a caçada policial aos gângsteres John Dillinger, Baby Face Nelson e Pretty Boy Floyd nos anos 1930.
Na produção, está Irwin Winkler, 93, produtor indicado ao Oscar por Touro Indomável (1980), outro filme estrelado por Robert De Niro, e Os Bons Companheiros, além de ter dirigido o ator em Culpado por Suspeita (1991).
Já o elenco de atores e atrizes coadjuvantes inclui três rostos conhecidos dos fãs da série Família Soprano (1999-2007). Michael Rispoli, que fazia Jackie Aprile, capo da máfia que morre nos episódios iniciais, dá vida a Albert Anastasia (1902-1957), um dos fundadores da Cosa Nostra nos EUA. Kathrine Narducci, a Charmaine Bucco, uma rara bússola moral na saga dos Sopranos, interpreta Anna, esposa de Vito Genovese. E Matt Servitto, o agente do FBI Dwight Harris, está no papel de George Wolf, advogado de Frank Costello.

Se os nomes são recorrentes em produções sobre mafiosos, a trama provoca déjà vu. Como Os Bons Companheiros, Cassino e O Irlandês, trata-se de mais um filme que pinta um painel histórico dos EUA ao retratar as imbricações entre os criminosos, os políticos, a economia e a sociedade. Vale avisar que Barry Levinson é menos didático e fluido do que Martin Scorsese na apresentação dos personagens e na contextualização, e montagem assinada por Douglas Crise busca imprimir um dinamismo e uma velocidade que por vezes atrapalham o entendimento dos fatos encenados e do catatau de texto.
Como em O Irlandês, o personagem de Robert De Niro (no caso, Frank Costello) relembra na velhice, falando para a câmera, episódios marcantes de sua trajetória. Ele começa narrando a tentativa de homicídio que sofreu em 1957, ao entrar no edifício de luxo em Nova York onde morava com a esposa, Bobbie (Debra Messing, vencedora do Emmy, e concorrente outras quatro vezes, pela pela série Will & Grace).
— Antes de eu levar um tiro na cabeça, acho que ninguém sabia que eu era mafioso. Não andava com guarda-costas e estava casado há 38 anos com a mesma mulher — Costello conta.

Quem atirou nele foi Vincent Gigante (1928-2005), papel do fraco ator Cosmo Jarvis (o John Blackthorne da série Xógum). Não demora a sabermos que Gigante fez isso a mando de Vito Genovese, outrora o melhor amigo de Frank Costello e dono de um estabelecimento no Bronx onde os mafiosos confraternizavam, o The Alto Knights Social Club. É que, depois de cumprir pena na prisão, Genovese quer uma fatia maior do bolo, o que gera o conflito que envolve Costello e as chamadas Cinco Famílias.
Este conto verborrágico sobre ego e ganância carece de momentos marcantes, ou pelo menos singulares, ainda que um ou outro monólogo provoque interesse, tensão ou até risos — como o que cita os mórmons que encontraram ouro em Palmyra, uma vila do Estado de Nova York. O filme parece que está sempre prestes a decolar, impressão reforçada pela trilha sonora de David Fleming (premiado com o Emmy pela música do seriado The Last of Us), mas isso nunca ocorre de fato.

The Alto Knights: Máfia e Poder vale só pela curiosidade de ver Robert De Niro interpretando dois personagens — e contracenando consigo mesmo. Enquanto Frank Costello exala elegância, diplomacia e esperteza, Vito Genovese é agitado, violento e irascível. São como as duas faces da mesma moeda. Daí, provavelmente, a ideia de escalar o mesmo ator. Ou talvez Joe Pesci, 82 anos, não estivesse a fim de reprisar um papel como o Tommy DeVito de Os Bons Companheiros ou o Nicky Santoro de Cassino. Diante de sua ausência, De Niro prestou uma bela homenagem ao emular o olhar e o jeito de falar de Pesci quando está na pele de Genovese.
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