
O Amazon Prime Video adicionou a seu menu Barbie (2023), que segue disponível na plataforma Max também. O título inspirado na trajetória da famosa boneca criada em 1959 foi um fenômeno midiático (lembram do "Barbenheimer"?). Fez um tremendo sucesso de público (com US$ 1,44 bilhão arrecadados, é a 15ª maior bilheteria da história). E recebeu 10 indicações ao Oscar, incluindo melhor filme, melhor ator coadjuvante (Ryan Gosling) e melhor atriz coadjuvante (America Ferrera), mas a Academia de Hollywood deixou de fora da disputa a sua diretora, Greta Gerwig (concorrente apenas ao prêmio de roteiro adaptado, escrito com seu companheiro, Noah Baumbach), e a sua protagonista, Margot Robbie. No fim, ganhou apenas a categoria de canção original, com What I Was Made For?, composta por Billie Eilish e seu irmão, Finneas O'Connell.
Barbie representou mais um avanço na carreira da atriz e cineasta estadunidense Greta Gerwig, hoje com 41 anos. Não faz muito tempo, seu nome estava ligado ao cinema alternativo e de baixíssimo custo (como Nights and Weekends, longa-metragem de 2008 que ela estrelou e codirigiu, com US$ 15 mil de orçamento).
Por Lady Bird: A Hora de Voar (2016), feito com US$ 10 milhões, Gerwig se tornou uma das raríssimas mulheres indicadas ao Oscar de direção — são apenas nove em quase 100 anos... Também competiu na categoria de roteiro original. Ela dispôs de US$ 40 milhões para adaptar o clássico de Louisa May Alcott em Adoráveis Mulheres (2019), que disputou a estatueta dourada de melhor filme e valeu mais uma indicação ao Oscar de roteiro adaptado.

Com Barbie, Gerwig entrou para o time das superproduções: bancado pela Warner, o filme custou US$ 145 milhões. Mas é um raro tipo de superprodução: não tem um herói masculino e, mais do que isso, tem um discurso feminista. E ainda que traga o logotipo da Mattel nos créditos de abertura, nem a empresa fabricante da boneca escapa das críticas nesta sátira.
Trata-se de uma mistura deliciosa de comédia, aventura, musical, drama com bastante crítica social e uma pitada de romance. Na trama, todas as Barbies vivem na Barbielândia, um mundo fantástico de plástico e em cor de rosa onde as mulheres é que têm protagonismo — são ganhadoras do Prêmio Nobel e há inclusive uma presidente negra, encarnada por Issa Rae. Ao entrar numa crise existencial, começando a pensar em morte e em celulite, a protagonista vivida por Margot Robbie descobre que precisa ir para o mundo real, para encontrar a criança que brinca com ela. O Ken (Ryan Gosling) apaixonado por ela vai junto, e aí os dois percebem que, do lado de cá, há um patriarcado: são os homens que mandam e as mulheres são constantemente assediadas e menosprezadas.
Cabe ao espectador que ainda não viu Barbie descobrir as consequências e a resolução dos conflitos. Mas, para o leitor que não se incomoda com um pouco de spoiler, listei 10 momentos de Barbie que merecem um 10.
1o momentos de "Barbie" que são nota 10
1) As citações e referências

Vão desde 2001: Uma Odisseia no Espaço (1968), clássica ficção científica de Stanley Kubrick parodiado na abertura, a O Show de Truman (1998), drama de Peter Weir em que o protagonista também sai de uma utopia para encarar o mundo real. Greta Gerwig listou como influências O Mágico de Oz (1939), O Céu Pode Esperar (1978) e Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos (1988), entre outros títulos. Vale acrescentar as piadas que envolvem O Poderoso Chefão (1972) e Liga da Justiça de Zack Snyder (2021).
2) A cenografia e o figurino
É a materialização, em escala humana e em muitos tons de rosa, das casas e dos adereços do mundo Barbie, o que inclui duríssimas ondas de plástico e um cachorro que solta cocô pelo caminho. Um desafio é contar quantas vezes Margot Robbie troca de roupa durante o filme.
3) Quando Barbie descobre o mundo real
É um choque para a personagem de Margot Robbie ter a consciência de que está sendo observada — ou pior: objetificada. Com "conotação de violência", como ela frisa.
4) Quando Ken descobre o mundo real
É (perversamente) engraçada a sequência em que o personagem de Ryan Gosling se dá conta de que os homens estão no comando e no centro de tudo.
5) A piada sobre a beleza da Margot Robbie
Durante a crise de Barbie, a narradora do filme, na voz de Helen Mirren (oscarizada por A Rainha), manda um recado aos produtores de Barbie: a atriz australiana é bonita demais para encarnar uma personagem que não mais se sente bonita.
6) O número musical do Ryan Gosling

É a coroação de um dos melhores desempenhos do ator canadense, que talvez se destaque mais do que a protagonista por estar livre para atuar majoritariamente no registro cômico. Vide a letra de I'm Just Ken: "'Cause I'm just Ken / Anywhere else I'd be a ten / Is it my destiny to live and die a life of blonde fragility? (Porque eu sou apenas Ken / Em qualquer outro lugar eu seria um dez / É meu destino viver e morrer uma vida de fragilidade loira?)". E a coreografia em si, com um coletivo de Kens (estão no elenco Simu Liu e Kinglsey Ben-Adir, entre outros) também é muito divertida, inventiva e surpreendente.
7) O monólogo de America Ferrera

A atriz californiana vencedora do Emmy pela protagonista da série Ugly Betty (2006-2010) faz o papel de Gloria, uma empregada da Mattel e mãe de uma adolescente que despreza a boneca. A certa altura, a personagem faz um discurso antológico sobre a pressão de ser mulher, sempre sob o escrutínio da sociedade e em conflito consigo mesmas, a respeito de temas que vão do cuidado com o corpo ao ambiente de trabalho. É um monólogo que garantiu sua indicação ao Oscar de atriz coadjuvante — e que serve como um complemento àquele proferido em História de um Casamento (2019), no contexto dos divórcios, por Laura Dern, que acabou conquistando a estatueta da categoria.
8) Esta definição
"Namorada casual de longo prazo à distância." (O sonho de muitos Kens!)
9) Esta frase
"Nós, mães, ficamos no nosso lugar para que nossas filhas olhem para trás e vejam como foram longe."
10) Esta música
Introspectiva e melancólica, What Was I Made For? garantiu à cantora Billie Eilish e a seu irmão, Finneas O'Connell, o segundo Oscar de melhor canção original. Eles já haviam vencido por No Time to Die, tema de 007: Sem Tempo para Morrer (2021).
Bônus
O comercial falso da Barbie Depressão. É genial e assustadoramente hilariante ao flagrar o comportamento de não poucas mulheres.
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