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A votação final do Oscar 2025 termina nesta terça-feira (18). Até as 22h (horário de Brasília), os cerca de 10 mil membros da Academia de Hollywood aptos a votar devem enviar suas cédulas.
Qualquer polêmica que vier à tona a partir desta quarta-feira (19) já não terá mais influência no resultado da premiação marcada para o dia 2 de março, em Los Angeles, com transmissão ao vivo pela RBS TV.
Se nas duas últimas edições havia francos favoritos nas principais categorias, com os triunfos de Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo em 2023 e de Oppenheimer em 2024, desta vez a disputa promete mais suspense e emoção na cerimônia de entrega das estatuetas douradas.
Confira como está a corrida pelos troféus mais importantes:
Melhor filme
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A briga pelo Oscar 2025 de melhor filme ficou mais animada com a vitória de Conclave no Bafta, a premiação da Academia Britânica, no domingo (16).
Quando a temporada de premiações começou, O Brutalista saltou na frente ao conquistar três Globos de Ouro, no dia 5 de janeiro: melhor filme de drama (gênero tradicionalmente mais prestigiado no Oscar), melhor direção (Brady Corbet) e melhor ator em drama (Adrien Brody).
O anúncio dos indicados ao Oscar pela Academia de Hollywood, em 23 de janeiro, confirmou a força de O Brutalista, que concorre em 10 categorias, porém também apontou Emilia Pérez como campeão de indicações — são 13 no total. O musical dirigido pelo francês Jacques Audiard já ganhou vários prêmios, mas virou alvo de campanhas difamatórias na internet por uma série de motivos, que vão desde o emprego de estereótipos na trama a manifestações de teor racista e xenofóbico publicadas entre 2020 e 2021 no antigo Twitter por sua protagonista, Karla Sofía Gascón.
No dia 7 de fevereiro, foi a vez de Anora, de Sean Baker, Palma de Ouro no Festival de Cannes em 2024, firmar-se como o principal candidato ao ganhar o PGA Awards, da Associação dos Produtores dos EUA, e o DGA Awards, do Sindicato dos Diretores dos EUA (também levou o Critics Choice, na véspera).
A votação da Academia de Hollywood se alinha bastante à do PGA: em 35 ocasiões, houve 25 coincidências, incluindo as vitórias de Nomadland, em 2021, No Ritmo do Coração, em 2022, Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo, em 2023, e Oppenheimer, em 2024. Mas mesmo quando um título ganha no PGA Awards e no DGA Awards, o Oscar de melhor filme não é uma certeza. Em 2017, La La Land, de Damien Chazelle, perdeu para Moonlight, e em 2019 1917, de Sam Mendes, perdeu para Parasita.
Às vésperas do encerramento da votação do Oscar, o Bafta deu impulso a Conclave, que foi premiado também nas categorias de melhor filme britânico, roteiro adaptado e edição. Mas embora haja membros da Academia Britânica na Academia de Hollywood, eles não são tantos a ponto de inclinar a votação. E Conclave terá de lutar contra as estatísticas: na quase centenária história do Oscar, apenas quatro vezes o ganhador do prêmio de melhor filme não tinha seu diretor também indicado na categoria de direção (Edward Berger ficou fora da lista). A última vez que isso aconteceu foi em 2013, com Argo.
Os outros seis candidatos são Ainda Estou Aqui, Um Completo Desconhecido, Duna: Parte 2, Nickel Boys, A Substância e Wicked. A eleição por voto preferencial deve prejudicar os filmes mais polarizadores, como Nickel Boys (com "câmera na primeira pessoa") e A Substância (que investe no body horror). Mas pode beneficiar um título que apareceu bastante em segundo, terceiro, talvez até quarto ou quinto lugar. Isso ajuda a explicar conquistas como as de O Discurso do Rei, em 2011, Green Book, em 2019, e No Ritmo do Coração, em 2022.
Se eu votasse no Oscar, minha cédula ficaria assim: 1) A Substância; 2) Ainda Estou Aqui; 3) Anora; 4) Conclave; 5) Emilia Pérez; 6) Um Completo Desconhecido; 7) Nickel Boys, 8) Duna: Parte 2; 9) O Brutalista; 10) Wicked. E colocaria um asterisco para registrar minha indignação: por que o melhor filme entre todos os concorrentes ao Oscar, A Semente do Fruto Sagrado, ficou relegado à categoria de longa internacional?
Melhor direção
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É verdade que Sean Baker, de Anora, já deve ter começado a preparar seu discurso para o Oscar de melhor direção. Desde a estreia do DGA Awards, em 1949, apenas oito vezes o vencedor não repetiu o feito no Oscar. E as escolhas coincidiram em 25 das últimas 30 edições.
No DGA Awards, o cineasta derrotou Jacques Audiard (Emilia Pérez), Edward Berger (Conclave), Brady Corbet (O Brutalista) e James Mangold (Um Completo Desconhecido). Audiard, Corbet e Mangold são seus rivais no Oscar, ao lado de Coralie Fargeat (A Substância).
Mas, novamente, o resultado do Bafta arranhou seu favoritismo: a Academia Britânica premiou Brady Corbet, que já tinha vencido o Globo de Ouro e recebeu o Leão de Prata no Festival de Veneza.
Se eu fosse integrante da Academia de Hollywood, votaria em Baker (mais pelo conjunto da obra) ou Fargeat.
Melhor ator
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Nesta categoria, há um favoritaço: Adrien Brody, que em O Brutalista encarna um fictício arquiteto húngaro e judeu, Lázsló Toth, um ex-prisioneiro dos campos de concentração nazistas que, em 1947, desembarca em Nova York para recomeçar a vida. O papel pode valer a Brody seu segundo Oscar de melhor ator na pele de um sobrevivente do Holocausto — ele venceu por interpretar um personagem real, o músico polonês Wladyslaw Szpilman (1911-2000), em O Pianista (2002). Por O Brutalista, o ator já foi premiado no Globo de Ouro, no Critics Choice e no Bafta. Se receber o SAG Awards, do Sindicato dos Atores dos EUA, no próximo domingo (23), seus rivais nem precisam comparecer à cerimônia do Oscar. São eles: Timothée Chalamet (Um Completo Desconhecido), Colman Domingo (Sing Sing), Ralph Fiennes (Conclave) e Sebastian Stan (O Aprendiz). Eu votaria em Domingo ou Stan.
Melhor atriz
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Antes do Bafta, havia um duelo. De um lado, Demi Moore, 62 anos, em sua primeira indicação. Por A Substância, já havia conquistado o Globo de Ouro de atriz em comédia ou musical, o Satellite Awards da mesma categoria e o Critics Choice. A "narrativa" em torno de seu nome é poderosa: sua personagem no filme da diretora francesa Coralie Fargeat espelha a trajetória da própria atriz, que, à medida que a idade avançou, perdeu espaço em Hollywood. Um sentimento de culpa pode pesar na cabeça dos integrantes da Academia, que adoram a oportunidade de consagrar uma volta por cima.
Do outro lado, Fernanda Torres, 59, de Ainda Estou Aqui, também estreante no Oscar e credenciada pelo Globo de Ouro em filme de drama e pelo Satellite Awards da mesma categoria. Aliás, é a única das cinco candidatas que concorre por um filme definido como dramático nessas premiações prévias. Há também fatores afetivos que pesam positivamente.
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Além de esbanjar carisma nas premiações e nos programas de TV dos quais participou, Torres tem uma história pessoal bastante atraente: sua mãe, Fernanda Montenegro, disputou o mesmo prêmio por Central do Brasil (1998), mas acabou derrotada por Gwyneth Paltrow, de Shakespeare Apaixonado, em uma das escolhas mais controversas da Academia de Hollywood (entre as rivais, também havia Cate Blanchett, esplendorosa em Elizabeth). Pode ser a oportunidade de uma justiça poética.
O triunfo de Mikey Madison, 25, protagonista de Anora, na premiação da Academia Britânica esquentou a categoria.
A cerimônia do SAG Awards, que será realizada pelo Sindicato dos Atores dos EUA no dia 23, pode dar um pouco mais de norte sobre o Oscar, caso a vencedora seja Moore ou Madison. Fernanda Torres está fora dessa disputa, que inclui Cynthia Erivo, de Wicked, Karla Sofía Gascón, de Emilia Pérez, ambas indicadas ao Oscar, e Pamela Anderson, de The Last Showgirl. Se a brasileira vier a ganhar o Oscar, seria a primeira premiada pela Academia de Hollywood sem indicação ao Bafta ou ao SAG. Eu realmente não saberia em quem votar: a energia de Madison, a raiva de Moore ou a contenção de Torres?
Melhor filme internacional
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Ainda Estou Aqui perdeu para Emilia Pérez em todas as premiações que os dois filmes concorriam: Globo de Ouro, Critics Choice e Bafta. Mas os dois primeiros troféus foram entregues antes que se avolumassem as polêmicas e as críticas sobre o musical dirigido pelo francês Jacques Audiard, e a votação da Academia Britânica começou quase uma semana antes de serem resgatados os tuítes com declarações islamofóbicas e racistas da atriz principal, Karla Sofía Gascón, que também atacou o próprio Oscar e acabou afastada da campanha de divulgação do filme. O processo eleitoral do Oscar teve início depois que tudo veio à tona.
A imprensa especializada na cobertura de Hollywood está dividida: a Variety aposta em Ainda Estou Aqui, e o Hollywood Reporter segue prevendo a vitória de Emilia Pérez. Eu votaria em A Semente do Fruto Sagrado.
Ator coadjuvante e atriz coadjuvante
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Kieran Culkin, por A Verdadeira Dor, e Zoe Saldaña, por Emilia Pérez, já conquistaram Globo de Ouro, Critics Choice e Bafta. O SAG Awards pode encaminhar o Oscar ou criar um fator surpresa (talvez Yura Borisov, de Anora, ou Ariana Grande, de Wicked). Eu iria de Culkin e Saldaña.
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