Estreia nesta quinta-feira (6) nos cinemas um desses filmes sobre os quais eu não posso falar muito — quanto menos você souber da história, mais vai curtir Acompanhante Perfeita (Companion, 2025), título escrito e dirigido por Drew Hancock, um dos roteiristas da série Suburgatório (2011-2014).
O filme é estrelado por Sophie Thatcher, atriz que faz a versão adolescente da personagem de Juliette Lewis na série Yellowjackets (2021-) e uma das missionárias do terror Herege (2024), e Jack Quaid, filho dos atores Dennis Quaid e Meg Ryan, conhecido pelo papel de Hughie no seriado The Boys (2019-).
A primeira cena é um monólogo da personagem de Thatcher, que combina fragilidade, estranheza e sensualidade no papel de Iris. O nome não deve ter sido escolhido ao acaso, pois remete aos olhos, e Iris nos conta sobre como nossa visão pode ser enganosa, já que parece existir um véu cobrindo as pessoas, as coisas, a realidade, o mundo. "Estamos todos tropeçando sem direção. Nenhum senso de significado, nenhum senso de propósito", ela filosofa. A vida é uma série de nuvens escuras sobre nossas cabeças, com breves momentos de felicidade radiante.
Iris afirma que só sentiu verdadeiramente feliz duas vezes. A primeira foi no dia em que conheceu Josh, o personagem de Quaid, quando ambos estavam fazendo compras no supermercado, como vemos em um flashback. A segunda foi no dia em que...
Embora a protagonista diga com todas as letras o que aconteceu, prefiro poupar o leitor dessa informação. Creio que Acompanhante Perfeita ganharia em mistério e impacto se Hancock tivesse guardado segredo, mesmo que não faltem descobertas e reviravoltas ao longo da trama.
O que dá para acrescentar sem medo de estragar a experiência do espectador é que, logo após a abertura, o jovem casal está viajando de carro para passar o fim de semana com amigos de Josh em uma casa de campo bastante isolada — a última residência antes do endereço fica a 27 quilômetros de distância. Iris está preocupada sobre como será recepcionada. Eli (Harvey Guillén, da série O que Fazemos nas Sombras) e seu namorado, Patrick (Lukas Gage, da primeira temporada de The White Lotus e de Sorria 2), parecem simpáticos. Mas Kat (Megan Suri, protagonista de Não Abra!) demonstra frieza ou rispidez. O anfitrião, um russo bigodudo chamado Sergei (Rupert Friend, da minissérie Anatomia de um Escândalo), contribui para a tensão do ambiente ao proferir, com seu sotaque carregadíssimo, uma frase de duplo sentido: "Minhas mãos não estão limpas".
Aliás, ao rebobinar mentalmente o filme podemos deparar com outros diálogos de duplo sentido que serviam de pistas para sua primeira grande revelação, que se dá por volta do 25º minuto dos 97 de duração. Obviamente, não vou entregá-los aqui. Só fiz a referência para ilustrar um dos trunfos do roteiro e da direção: Drew Hancock convida o espectador para brincar junto.
Não é uma brincadeira amistosa, convém ressaltar. Mas enumerar os gêneros ao qual Acompanhante Perfeita se filia também poderia gerar spoiler.
Então, paro por aqui. Antes do ponto final, reforço uma velha recomendação: não veja o trailer.
Mas se quiser saber um pouco mais para decidir se o filme vale o ingresso, posso dizer que Acompanhante Perfeita consegue dosar humor, cenas de ação, momentos de terror, reflexões sobre a solidão contemporânea (que pode levar à mercantilização do amor) e indagações sobre um futuro cada vez mais próximo.
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