O anúncio dos indicados à 82ª edição do Globo de Ouro, premiação da Associação de Imprensa Estrangeira em Hollywood a ser entregue em 5 de janeiro, confirmou o prestígio do filme brasileiro Ainda Estou Aqui, que vai competir na categoria de produções em língua não inglesa, e deu mais um estímulo na campanha para conseguir uma vaga no Oscar internacional.
Pesa muito a favor também a presença de Fernanda Torres na disputa do troféu de melhor atriz em drama: isso deve aumentar a visibilidade do longa-metragem de Walter Salles sobre Eunice Paiva, que, após o desaparecimento do marido durante a ditadura militar no Brasil (1964-1985), é obrigada a se reinventar e traçar um novo destino para si e seus cinco filhos.
O problema é a fortíssima concorrência. Em ambas as categorias.
Globo de Ouro de melhor atriz
Entre as atrizes, Fernanda Torres é, disparado, a menos conhecida em Hollywood. O que, pensando por outro lado, talvez possa ser um trunfo, se os 300 jornalistas associados resolverem escolher alguém que já não tem a estante abarrotada de prêmios (mas a brasileira, vale citar, tem o troféu de melhor atriz no Festival de Cannes por Eu Sei que Vou te Amar, em 1986). Desse total, o colegiado brasileiro até que é grandinho: são 21 votantes. Outro ponto positivo, como bem observou um leitor no Facebook, é que, das seis candidatas, Fernanda é a única cujo filme também está competindo em outra categoria.
Uma de suas maiores adversárias é Nicole Kidman, que, em Babygirl, faz o papel de uma executiva poderosa que coloca a carreira e família em risco quando começa um caso tórrido com seu estagiário muito mais jovem. Kidman ganhou o Oscar por As Horas (2002) e já venceu cinco vezes o Globo de Ouro, a última por Apresentando os Ricardos (2021).
Kate Winslet, indicada por Lee, cinebiografia da fotojornalista Lee Miller (1907-1977), que, na Segunda Guerra Mundial, cobriu a Blitz de Londres, a libertação de Paris e fotografou os campos de concentração em Buchenwald e Dachau, conquistou o Oscar por O Leitor (2008) e também soma cinco Globos de Ouro. O último veio pela minissérie Mare of Easttown (2021).
Angelina Jolie, concorrente por Maria Callas, cinebiografia da célebre cantora de ópera (1923-1977), tem um Oscar, por Garota, Interrompida (1999), e três Globos de Ouro.
Tilda Swinton, na disputa por interpretar uma mulher com câncer terminal em O Quarto ao Lado, drama de Pedro Almodóvar sobre o direito à eutanásia e ao suicídio assistido, recebeu o Oscar por Conduta de Risco (2007), mas foi derrotada nas quatro vezes em que competiu no Globo de Ouro.
Indicada por The Last Showgirl, Pamela Anderson não tem prêmios importantes no currículo, mas é uma celebridade que voltou à tona após ser retratada na minissérie Pam & Tommy (2022) e que vem sendo muito elogiada por seu desempenho como uma dançarina veterana que precisa planejar seu futuro quando seu show é encerrado abruptamente após 30 anos em exibição. Por conta de sua trajetória de queda e redenção, Anderson pode roubar de Fernanda Torres votos de quem acha legal premiar uma atriz que ainda não foi tão reconhecida.
Globo de Ouro de filme em língua não inglesa
Na categoria de melhor filme em língua não inglesa, Ainda Estou Aqui terá pela frente três títulos que estão entre os preferidos da crítica na temporada: Tudo que Imaginamos como Luz, Emilia Pérez e The Seed of the Sacred Fig.
O único que está fora da briga pelo Oscar internacional, porque a Índia selecionou outro filme, é Tudo que Imaginamos como Luz, de Payal Kapadia, também indicada ao Globo de Ouro de melhor direção. Nesse longa-metragem que tem mais uma sessão de pré-estreia nesta terça (10), às 15h, na Cinemateca Capitólio, em Porto Alegre, ela acompanha duas enfermeiras de Mumbai que lidam com a opressão do patriarcado. Recebeu o Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes, foi eleito o melhor filme do ano pela revista inglesa Sight and Sound, ficou em quinto lugar no top 10 da Cahiers du Cinèma, venceu o Gotham Awards de filme internacional e também foi o escolhido dessa categoria na votação dos críticos de Nova York e de Los Angeles.
Os outros quatro rivais no Globo de Ouro podem cruzar o caminho de Ainda Estou Aqui em uma possível indicação ao Oscar. Os 15 semifinalistas serão conhecidos em 17 de dezembro, e a lista dos concorrentes sai em 17 de janeiro (a cerimônia de premiação está marcada para 2 de março).
Com estreia no Brasil prevista para 6 de fevereiro, Emilia Pérez é um empolgante musical sobre uma advogada (Zoe Saldana) que é contratada por um temido líder do narcotráfico mexicano (a atriz trans Karla Sofía Gascón) para forjar sua morte e ajudá-lo a ressurgir como a mulher que ele sempre sonhou ser. No Festival de Cannes, o filme mereceu o prêmio do júri e um troféu para o elenco: Saldana, Gascón, Selena Gomez e Adriana Paz. No Globo de Ouro, recebeu outras nove indicações: melhor filme musical ou de comédia, direção (o francês Jacques Audiard), atriz (Karla Sofía Gascón), atriz coadjuvante (Zoe Saldana e Selena Gomez), roteiro, música original e canção (El Mal e Mi Camino).
Ainda sem confirmação de data no Brasil, The Seed of the Sacred Fig (A Semente da Figueira Sagrada) é o nome em inglês de Daneh Anjeer Moghadas, filme do cineasta iraniano Mohammad Rasoulof que fugiu de seu país depois de ter sido condenado a oito anos de prisão e açoitamento. Na corrida do Oscar, representa a Alemanha. Trata-se de um filmaço sobre um aspirante a juiz que luta contra a paranoia em meio à agitação política em Teerã, no contexto das mortes de jovens mulheres por não usarem (ou não usarem da forma considerada correta) o hijab, o véu que cobre a cabeça e o pescoço das muçulmanas. Quando sua arma desaparece, ele suspeita de sua esposa e de suas filhas. Levou o Prêmio Especial do Júri em Cannes e foi apontado como o melhor filme internacional nos EUA pela National Board of Review. Entre os críticos de Los Angeles, Rasoulof foi eleito o melhor diretor.
Prestes a ser lançado pela MUBI, A Garota da Agulha, de Magnus von Horn, se passa na Copenhague de 1919, onde uma jovem trabalhadora fica desempregada e grávida. Então, ela conhece Dagmar (Trine Dyrholm, de Rainha de Copas), que dirige uma agência de adoção clandestina.
Sem previsão de estreia no Brasil, o italiano Vermiglio, de Maura Delpero, recebeu o Grande Prêmio do Júri no Festival de Veneza. O filme é ambientado em 1944, na vila alpina chamada Vermiglio. A chegada de Pietro, um desertor, transforma a família do professor local. A Itália, vale lembrar, é a maior campeã do Oscar, com 14 conquistas.
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