Um dos filmes de terror mais badalados do ano estreia nesta quinta-feira (29) nos cinemas de Porto Alegre: Longlegs (2024), que já arrecadou US$ 101 milhões nas bilheterias e que traz Nicolas Cage em outra interpretação antológica. O ator estadunidense de 60 anos está irreconhecível, debaixo de uma prótese facial, mas seu rosto será inesquecível. Se nesta mesma temporada ele já apareceu como O Homem dos Sonhos, aqui é o homem dos pesadelos.
Como sua primeira aparição e seu visual causam um tremendo impacto, não vou publicar foto do seu personagem, para preservar a experiência do espectador — ou garantir seu trauma. Da mesma forma, resolvi omitir o subtítulo que Longlegs ganhou no Brasil, porque entrega o que, na trama, é tratado com certo mistério. (Paradoxalmente, a distribuidora nacional, a Diamond Films, evitou divulgar imagens de Nicolas Cage caracterizado.)
Este é o quarto longa-metragem de Osgood Perkins, 50 anos, o filho mais velho do ator Anthony Perkins (1932-1992), imortalizado por estrelar Psicose (1960), e da atriz e fotógrafa Berry Berenson (1948-2001). Os anteriores foram A Enviada do Mal (2015), O Último Capítulo (2016) e Maria e João: O Conto das Bruxas (2020).
Perkins escreveu o roteiro de Longlegs, que é declaradamente inspirado em O Silêncio dos Inocentes (1991) e Seven: Os Sete Crimes Capitais (1995) — não à toa, a história se passa na década de 1990, como indica o retrato oficial de Bill Clinton, presidente dos Estados Unidos entre 1993 e 2001, em um escritório do FBI, a polícia federal do país. Atriz que despontou nos filmes de terror Corrente do Mal (2014) e O Hóspede (2014), Maika Monroe encarna uma policial muito intuitiva, Lee Harker, recrutada pelo agente Carter (Blair Underwood) para investigar o caso do serial killer conhecido somente pelo apelido de Longlegs — em inglês, pernas compridas. É esse o nome que assina as cartas com textos criptografados deixados nas cenas de seus crimes: o assassinato de famílias, sempre com pai, mãe e pelo menos uma criança, dentro de suas próprias casas, e nunca com sinais de arrombamento.
Não é segredo que o papel do assassino coube a Nicolas Cage, novamente em alta após um período tinhoso, cheio de filmes medonhos ou no mínimo esquecíveis — que, entre 2006 e 2016, renderam a ele oito indicações ao Framboesa de Ouro, o prêmio de galhofa dado às piores produções da temporada. Graças a títulos como o belíssimo Pig (2021), o autorreferencial O Peso do Talento (2022) e o inventivo O Homem dos Sonhos (2023), o sobrinho do cineasta Francis Ford Coppola retomou o status conquistado na época em que figurava no Oscar — ganhou como melhor ator por Despedida em Las Vegas (1995) e concorreu por Adaptação (2002) — e era astro do cinema de ação, vide a "trilogia" A Rocha (1996), Con Air: Rota de Fuga (1997) e A Outra Face (1997).
Em entrevistas, Cage disse que fazer Longlegs foi "libertador":
— Logo quando começamos a falar da maquiagem, eu fiquei muito empolgado, pois sabia que ia ser libertador e traria as polaridades andróginas do personagem que eu queria trazer. E eu queria já falar com vozes diferentes, me mexer de forma diferente, e quando eu estava com aquela maquiagem eu me sentia livre, pois eu não parecia nada comigo mesmo.
A transformação foi operada por Harlow McFarlane, especialista em maquiagens especiais que já trabalhou em séries como Sweet Tooth, A Queda da Casa de Usher e The Last of Us. A inspiração, o ator buscou na própria família, conforme depoimentos atuais e revelações feitas à revista Playboy nos anos 1990.
— Eu li o roteiro e vi de cara que era incrível. Vi que era algo realmente sombrio, e pensei como iria viver aquilo. E aí minha mãe veio à mente. Ela não era satânica, mas ela batalhava contra algo no interior dela, e isso a fazia agir de forma estranha. Sofreu de doenças mentais durante a maior parte da minha infância, entrou em estados depressivos, ficou internada durante anos e passou por tratamentos de choque. Ela dizia as coisas mais incríveis, lindas, mas assustadoras. Então decidi canalizar minha mãe como Longlegs. Se eu sou bom no que eu faço, em qualquer instância, eu devo à minha mãe, Joy Vogelsang — revelou Cage, que perdeu a mãe há três anos.
Um atestado do espanto que a caracterização de Cage pode provocar é esta declaração de sua colega de elenco, Maika Monroe:
— Eu não tinha a menor ideia de que ele estaria daquele jeito. Demorei alguns dias para processar aquilo tudo, aquela transformação. É algo que eu nunca vou esquecer.
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