Começa nesta quarta-feira (24) e vai até o dia 13 de setembro a 11ª Mostra Ecofalante de Cinema, considerado o mais importante evento audiovisual sul-americano dedicado às temáticas socioambientais. No total, entre longas-metragens e curtas, serão exibidos 110 filmes de 27 países em quatro salas de Porto Alegre: CineBancários, Cinemateca Capitólio, Sala Eduardo Hirtz e Sala Redenção. Os títulos estão divididos por eixos como Ativismo, Biodiversidade, Povos & Lugares, Trabalho, Emergência Climática e Sociedade & Redes. Também haverá homenagens a cineastas e obras (leia logo abaixo).
— Por estarmos chegando pela primeira vez a Porto Alegre, queríamos trazer uma edição quase completa. Com estaremos só em quatro cinemas, praticamente não existe a possibilidade de exibir os filmes mais de uma vez — alerta o fundador e diretor da Ecofalante, o economista e documentarista Chico Guariba.
Com o apoio de Guariba, a coluna apresenta 15 destaques da programação, que, em sua grande maioria, é formada por documentários:
O filme de abertura
No documentário Animal (2021), o diretor francês Cyril Dion acompanha os ativistas Bella e Vipulan, ambos de 16 anos, que fazem parte de uma geração convencida de que seu futuro está em perigo.
— Animal é um excelente filme que toca numa crise pouco discutida. A crise climática está aí, ao alcance de todos, mas não se fala muito da crise da biodiversidade, com a sexta extinção em massa de espécies animais, a primeira provocada pelo homem — aponta Guariba.
Sessão nesta quarta, dia 24/8, às 19h30min, na Cinemateca Capitólio
A questão indígena
Adeus, Capitão (2022), do cineasta e antropólogo franco-brasileiro Vincent Carelli, fecha a trilogia iniciada com o premiado Corumbiara (2009) e que se seguiu com Martírio (2016). Conforme a organização da Mostra Ecofalante, o filme codirigido por Tatiana "Tita" Almeida "reflete sobre os males da aculturação nas populações indígenas do Brasil ao apresentar 70 anos de registros do povo Gavião, partindo do primeiro contato dos então isolados indígenas com os kupên (brancos)".
Sessões no dia 30/8, às 19h, no CineBancários, e no dia 4/9, às 18h30min, na Cinemateca Capitólio
A questão indígena no Brasil também é o tema de O Território (2022), filme dirigido pelo estadunidense Alex Pritz e produzido pelo cineasta Darren Aronofsky (de Cisne Negro e Mãe!). Vencedor do prêmio especial do júri e do prêmio do público no Festival de Sundance (EUA), fala da luta do povo Uru-eu-wau-wau e de ativistas como Neidinha Suruí para proteger a terra e a Floresta Amazônica da invasão por grileiros.
— O cinema é fundamental no processo de defesa dos povos, terras e culturas indígenas. Cada vez mais o poder das narrativas indígenas sobressai, trazendo um profundo aprendizado para nossa sociedade, que produziu essa crise ambiental e civilizatória. E através do cinema elas ganham vozes no mundo — comenta o diretor da Mostra Ecofalante.
Sessão no dia 27/8, às 19h, no CineBancários
40 anos de "Koyaanisqatsi"
Uma das homenagens da Mostra Ecofalante é ao 40º aniversário do documentário cult Koyaanisqatsi (1982). Trata-se de um ensaio visual do diretor estadunidense Godfrey Reggio, embalado pela célebre trilha sonora composta por Philip Glass, que critica o impacto da dita civilização e de seus padrões de consumo sobre o planeta e a natureza.
— O filme mudou a forma de perceber o meio ambiente. A vida em desequilíbrio foi mostrada em imagens esteticamente maravilhosas com o uma trilha sonora hipnotizante, e o discurso foi totalmente construído através da montagem, sem a necessidade da palavra — elogia Guariba.
Sessão no dia 3/9, às 17h, na Cinemateca Capitólio
A "mãe" do cinema na África
A francesa Sarah Maldoror (1929-2020) realizou o primeiro longa rodado na África por uma mulher: Sambizanga (1972), drama que retrata o movimento de libertação angolano e será apresentado em versão restaurada.
Sessão no dia 26/8, às 19h30min, na Cinemateca Capitólio
Documentários indicados ao Oscar
Fazem parte da programação três filmes que concorreram ao Oscar de melhor documentário. Em Migração Alada (2001), o diretor Jacques Perrin — morto em abril, aos 80 anos — e os codiretores Jacques Cluzaud e Michel Debats observam o movimento migratório de pássaros que cruzam 40 países e sete continentes.
Sessão no dia 27/8, às 17h, na Sala Eduardo Hirtz
Ascensão (2021) foi um dos cinco indicados na cerimônia de 2022. Estadunidense de mãe chinesa, a produtora e diretora Jessica Kingdon faz um documentário observacional e impressionista — não há entrevistas nem narrações. Ela viajou por 51 locações na China para filmar cenas cotidianas, estruturadas em três temas: trabalho, consumismo e lazer. Em uma jornada visual fascinante, Ascensão demonstra o progresso econômico e a divisão de classes cada vez maior. Começa com as hordas de trabalhadores buscando empregos de baixa remuneração. Depois veremos, entre outros cenários, a linha de montagem de bonecas sexuais de última geração, um curso de boas maneiras nos negócios, escolas de guarda-costas e de mordomos e um imenso e lotadíssimo parque aquático.
Sessão no dia 2/9, às 19h, na Sala Eduardo Hirtz
Também concorrente ao Oscar em 2022, Escrevendo com Fogo (2021), de Rintu Thomas e Sushmit Ghosh, começa explicando, em um letreiro, o sistema de castas da Índia. À margem da hierarquia, estão os dalits: os párias, os impuros, os intocáveis. São dalits as editoras e repórteres do Khabar Lahariya, único veículo de comunicação indiano com comando feminino e foco do filme. Foi fundado em maio de 2002, com sede no Estado mais populoso do país, Uttar Pradesh, situado ao norte e notório pelos crimes contra as mulheres. No início de Escrevendo com Fogo, Meera Devi, repórter-chefe do Khabar Lahariya, está em trabalho de apuração. Na companhia do marido, uma mulher enumera os dias do mês de janeiro nos quais foi estuprada por homens que invadiram sua casa quando ela estava sozinha: 10, 16, 18, 19... A polícia não quis abrir inquérito, diz o casal. Na delegacia, um oficial afirma a Meera que desconhece o caso. (Consta que apenas uma a cada quatro denúncias termina em condenação na Índia, país que costuma chocar o mundo com episódios de estupro coletivo, conforme visto no filme de ficção Mom e na série policial Crimes em Déli.)
Sessão no dia 26/8, às 19h, no CineBancários
Outros destaques
Birds of America (2021): John James Audubon (1785-1851), naturalista norte-americano de origem francesa, revolucionou o mundo da ornitologia com seu livro Birds of America, no qual procurou retratar todas as espécies de aves do "novo continente". Seguindo os passos do naturalista em uma rota ao longo do rio Mississipi, o filme do diretor francês Jacques Loeuille "soa um alerta ao mostrar o quanto se perdeu em um tempo relativamente curto pela industrialização, pela ganância e pela indiferença". Sessão no dia 25/8, às 19h, na Cinemateca Capitólio
Geração Z (2021): no programa Sociedade & Redes, a diretora Liz Smith examina como a revolução digital está impactando nossa sociedade, nosso cérebro e nossa saúde mental. O material de divulgação acrescenta: "E como as forças que a impulsionam estão trabalhando contra a humanidade e nos colocaram em uma trajetória perigosa que tem enormes ramificações para esta primeira geração crescendo com a tecnologia digital móvel". Sessões no dia 4/9, às 19h, na Sala Eduardo Hirtz, e no dia 13/9, às 15h, na Sala Redenção
Mil Incêndios (2021): eleito como o documentário mais inovador do ponto de vista estético-formal da Semana da Crítica do Festival de Locarno, o filme do palestino-britânico Saeed Taji Farouky conta a história de uma família de Mianmar que pratica a extração manual de petróleo. Sessão no dia 7/9, às 19h, na Cinemateca Capitólio
Nosso Planeta, Nosso Legado (2021): o cineasta Yann Arthus-Bertrand revisita sua vida e sua trajetória engajada de quase cinco décadas. Priorizando o debate acerca dos danos ecológicos causados pelo ser humano, o filme apresenta soluções de reconciliação com a natureza e caminhos possíveis para um futuro menos devastado. Sessão no dia 27/8, às 18h30min, na Cinemateca Capitólio
Rolê: Histórias dos Rolezinhos (2021): vencedor da categoria no Festival de Brasília, o documentário de Vladimir Seixas acompanha a vida e as lembranças de três personagens negras que enfrentaram situações traumáticas de racismo e participaram de ocupações em shoppings. Sessão no dia 28/8, às 17h, no CineBancários (com o curta Ser Feliz no Vão)
As Sementes de Vandana Shiva (2021): o documentário de Camilla Becket e James Becket conta a história da filha de um conservador florestal do Himalaia que se tornou "o pior pesadelo" da agricultura industrial. Sessão no dia 28/8, às 19h, no CineBancários
Uma Vez que Você Sabe (2020): desde os anos 1970, cientistas soam o alarme sobre um possível colapso ambiental induzido pela corrida desenfreada pelo crescimento, que ignora o conceito da finitude dos recursos naturais. Um grupo deles afirma que a oportunidade de evitar mudanças climáticas catastróficas já passou. A partir daí, o filme de Emmanuel Cappellin pergunta: como se adaptar ao colapso? Sessão no dia 27/8, às 19h, na Sala Eduardo Hirtz