Lançado na Austrália com uma semana de antecedência em relação aos demais mercados, como Brasil — onde estreia nos cinemas nesta quinta-feira (30) — e Estados Unidos (em cartaz a partir de 1º de julho), Minions 2: A Origem de Gru (2022) já engordou em mais US$ 4 milhões a bilheteria da franquia de animação com o melhor desempenho comercial.
Isso mesmo: esse posto não pertence nem à Disney nem à Pixar, empresas que são sinônimo de desenho animado e que dominam o Oscar da categoria — desde a instituição do prêmio, em 2001, ganharam 15 das 21 edições.
Iniciada em 2010 pelas mãos do francês Pierre Coffin e do estadunidense Chris Renaud, a franquia Meu Malvado Favorito (Despicable Me, em inglês) só chegou perto da estatueta dourada uma vez, com a indicação de Meu Malvado Favorito 2 (2013), mas arrecadou US$ 3,7 bilhões com seus quatro primeiros títulos. Xodós do estúdio Illumination e da companhia Universal, o personagem Gru, suas adoráveis filhas adotivas e os ora engraçados, ora enervantes minions desbancaram Shrek, da DreamWorks — a tetralogia do ogro (2001-2010) mais o derivado Gato de Botas (2011) faturaram US$ 3,5 bilhões. Os cinco A Era do Gelo (2012-2016), US$ 3,2 bilhões, e os quatro Toy Story (1995-2019), US$ 3 bilhões. Se houver um Frozen 3, as princesas Elsa e Anna podem assumir o trono, pois seus dois filmes (2013 e 2019) somaram US$ 2,7 bilhões.
Minions 2 sucede os dois maiores sucessos da cinessérie. Minions (2015) fez US$ 1,1 bilhão, e Meu Malvado Favorito 3 (2017), US$ 1 bilhão. Os três trazem o nome de Kyle Balda na direção — no novo filme, ele tem como codiretores Brad Ableson e Jonathan de Val.
A popularidade da família Meu Malvado Favorito é fácil de explicar — no Brasil, começa pelo título, que pegou de primeira, assim como as criaturas amarelas foram adotadas em memes e em neologismos. Na versão original, contou pontos o elenco de vozes com comediantes de peso, como Steve Carell, Jason Segel, Russell Brand, Will Arnett e Kristen Wiig — no nosso país, os principais dubladores são Leandro Hassum e Maria Clara Gueiros. Gru, o protagonista, surgiu como um vilão que queria o que todos queremos, ser motivo de orgulho para a mãe, e aos poucos foi se transformando em um paizão. O ritmo da comédia, entre o pastelão e o sentimentalismo, ornada por pérolas da música pop (como Happy, de Pharrell Williams, do segundo filme, indicada ao Oscar), agrada crianças e adultos — estes últimos também podem se divertir com um punhado de referências.
Último a estrear entre os grandes lançamentos de 2020 adiados pela pandemia (da lista, faziam parte 007: Sem Tempo para Morrer, Velozes e Furiosos 9 e Top Gun: Maverick), Minions 2 avança no tempo em relação a Minions. Se na aventura anterior os devotados e atrapalhados assistentes serviram à vilã Scarlett Overkill na Londres de 1968, agora eles estão na San Francisco (EUA) de 1976, junto a Gru, então com seus 11, 12 anos. Serão seus parceiros em traquinagens como furar a fila na sorveteria, cobrir de mostarda os clientes de uma lanchonete, trapacear na máquina de fisgar bichinhos de pelúcia e esvaziar um cinema, com a explosão de uma bomba de pum, para assistirem sozinhos a uma sessão de Tubarão (1975) — só bons exemplos!
Antes, porém, veremos em ação um grupo de supervilões, o Vicious 6, rebatizado na versão brasileira como Sexteto Sinistro, mesmo nome de um bando de inimigos do Homem-Aranha. A propósito da tradução, alguns integrantes conseguiram manter o trocadilho original (Svengeance é Svengança). Só que houve um tropeço com Belle Bottom, que foi criada em homenagem à cantora Diana Ross, presente na trilha sonora com uma música nova (Turn Up the Sunshine, ao lado da banda Tame Impala), mas virou Donna Disco, que lembra outra artista da época, Donna Summer. E Jean-Claw, que faz referência ao ator Jean-Claude Van Damme, dublador do personagem, tornou-se o insosso Jean Garra.
Quando o Sexteto Sinistro demite seu líder, Wild Knuckles/Willy Kobra, Gru se candidata para entrar no grupo. Rejeitado e humilhado, ele arma um plano de vingança: roubar o poderoso amuleto que é o objeto do desejo da trupe maligna.
Diferentemente dos filmes da Pixar, Gru e os minions nunca pretenderam mais do que oferecer diversão, ainda que pontuada pelo enaltecimento da família e da camaradagem — e ainda que, claro, marcada pelo escárnio e pela violência de mentirinha. Mas, na comparação com os segmentos anteriores da franquia, Minions 2 fica devendo bastante. A história é rasa, as situações humorísticas parecem repetidas (mas dá para rir nas piadas envolvendo o bumbum dos operários amarelos ou nos momentos insanos à la Looney Tunes), o Gru mirim não tem o mesmo charme de sua versão adulta...
Pode ser que, pelas travessuras nas quais as crianças podem identificar suas fantasias de poder e de maldade e pelo ritmo agitado, funcione com o público infantil, claramente o alvo, embora a ambientação na década de 1970 acene para os mais velhos. A estes, resta o consolo da curta duração (87 minutos), de uma ou outra citação a filmes da época e da trilha sonora, que inclui novas interpretações para clássicos como Desafinado (de Stan Getz e João Gilberto, 1959), Bang Bang (de Nancy Sinatra, 1966), Dance to the Music (Sly & The Family Stone, 1967), You're no Good (número 1 nas paradas dos EUA de 1975 na voz de Linda Ronstadt), Shining Star (Earth, Wind & Fire, 1975) e Funkytown (Lipps Inc., 1979).
A joia da vez é Born to Be Alive, sucesso lançado por Patrick Hernandez em 1979, cantada em um idioma oriental (cantonês ou mandarim, confesso que não consegui distinguir) por Jackson Wang, artista nascido em Hong Kong que integra o grupo sul-coreano GOT7. Ficou tão bacana, que cheguei a pensar ser uma obscura regravação feita naqueles tempos.