Com menos de 15 minutos pode-se perceber que A Cidade dos Piratas, em cartaz na Apple TV, no Google Play e no YouTube, demorou mais de 20 anos entre sua ideia e a estreia, no Festival de Gramado de 2018. É como se o filme tivesse cinco começos, uns interessantes, outros menos, e não tarda a ficar claro que nem todas as tramas foram amarradas ou conversam entre si. Isso é consequência de um trabalho que, ao alongar-se no tempo previsto para sua produção, viu a ficção ser atropelada pela realidade: no meio do caminho, Laerte, o genial cartunista paulista que criara os Piratas do Tietê em 1983, passou a ser A genial cartunista paulista, agora renegando os filhos famigerados, por considerá-los "múmias machistas". O diretor gaúcho Otto Guerra (que nesse intervalo lançou outras duas animações, Wood e Stock: Sexo, Orégano e Rock’n’roll, em 2006, e Até que a Sbórnia nos Separe, em 2014) e os roteiristas até que se viraram bem com esse contratempo, acrescentando trechos metalinguísticos (em que o realizador aborda essa situação) e documentais (com depoimentos e entrevistas da própria Laerte). Mas, a despeito de uma série de momentos sublimes e de reflexões tanto sobre a vida íntima das pessoas quanto sobre a vida pública no Brasil, falta uma cola, uma coesão, fazendo da obra menos um longa-metragem e mais uma sucessão de esquetes intercalados.
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Opinião
Filme de pirata leva 20 anos para sair e acaba jogando personagens ao mar
Diretor gaúcho Otto Guerra assina "A Cidade dos Piratas" (2018), animação baseada em quadrinhos de Laerte
Ticiano Osório
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