Passados alguns dias do início dos Jogos Olímpicos, assistimos a eliminatórias, semifinais e finais de modalidades que muitas vezes nem fazíamos ideia de que existiam. Conhecemos atletas que normalmente não aparecem para o grande público e vibramos com seus nomes, como sempre ocorre em época de Olimpíadas.
Quem não lembra de Thiago Braz nos Jogos do Rio 2016, batendo o recorde olímpico e conquistando a medalha de ouro em frente a um estádio lotado de brasileiros? Ou Alison dos Santos — o Piu, nas olimpíadas de Tóquio, chocando o país inteiro ao ganhar o bronze na prova de 400 metros com barreiras mais rápida de todos os tempos?
São exemplos recentes de atletas que não eram tão conhecidos fora das pistas e de repente se tornaram heróis de uma nação. Mas não é só isso que eles têm em comum, aliás, todos os atletas olímpicos têm algo em comum: a recusa em se darem por vencidos.
Tivemos mais uma medalha histórica para o Brasil com Caio Bonfim na marcha atlética — uma prata, como escrevi na minha coluna do dia 21, para nós do meio não foi surpresa, inclusive essa conquista era há muito tempo esperada.
Uma medalha que coroa uma carreira brilhante do melhor atleta de atletismo da atualidade, na minha humilde opinião.
Caio entra num seleto grupo de atletas que têm medalha em Jogos Olímpicos, Jogos Pan-Americanos e Mundiais. Ele se torna mais uma figura do atletismo que surpreende o grande público e traz para casa o tão sonhado prêmio olímpico.
Em sua entrevista, ele fez um relato muito emocionante, e a parte que me tocou foi a seguinte:
— Um cara perguntou: "foi difícil essa prova?" Eu disse não, difícil foi desde o dia em que eu fui marchar na rua pela primeira vez e fui xingado [...] Quando eu disse isso pro meu pai que eu queria ser marchador, foi o dia que eu decidi ser xingado sem ter problema.
O que Caio disse é muito tocante porque a persistência dele perante as inúmeras dificuldades, que ele já sabia que teria pela frente, é algo comum entre todos os atletas olímpicos.
Essa característica independe de esporte ou país, logicamente, alguns países tem mais estrutura e fornecem melhores condições para seus atletas se desenvolverem do que outros, mas se o cidadão não tiver pelo menos essa persistência, ele não chega, o alto rendimento não permite isso.
A cada ciclo, aliás, a cada ano, os atletas são bombardeados de desafios, seja em forma de lesões, de falta de incentivo, de dificuldades financeiras ou a incapacidade de performar quando importa. E isso são coisas que ferem, que tornam o caminho que escolhemos tão árduo.
Para Caio, foram quatro edições de Jogos Olímpicos até conseguir a medalha. Para outros, essa oportunidade nem chega, visto que só três sobem ao pódio. Porém, garanto que para todos foram não somente incontáveis anos de abdicação, determinação e treinamento, mas principalmente a recusa em se darem por vencidos.
Essa é a característica comum a todos nós e uma parte do que nos abastece para continuarmos em frente, apesar dos pesares.