A França tinha como missão sediar os Jogos Olímpicos mais sustentáveis da história em Paris e, para atingir esse objetivo, não poupou esforços. Um dos aspectos mais importantes e desafiadores da Olimpíada é prover alimentação para os mais de 10 mil atletas, que participam dos Jogos. E uma das medidas sustentáveis adotadas pelo comitê organizador foi oferecer um cardápio com 60% de opções vegetarianas e veganas para diminuir a pegada de carbono (diz-se que a pegada de carbono foi reduzida em 50% devido a essa ação). Além disso, o comitê organizador decidiu banir o fast food da Vila Olímpica, alegando que não haveria necessidade.
A priori, tudo parece bem, o tema de sustentabilidade tem sido recorrente durante os Jogos Olímpicos, desde as camas de papelão até a transformação da Vila em moradias populares após o evento, mas se tratando da comida, tiveram problemas.
Atletas estão quase sempre com fome e necessitam de muitas calorias para a maioria das práticas esportivas. A dieta é um componente essencial e ela varia dentre as diferentes modalidades esportivas. Quando se chega em Jogos Olímpicos, nos preocupamos para não termos alterações drásticas na alimentação, porque ela tem papel importantíssimo na preparação. Ou seja, se durante o ciclo temos uma alimentação abundante em carne, durante as Olimpíadas faremos o possível para manter esse tipo de alimentação. Parece que o comitê organizador não pensou nisso.
Nos primeiros dias de Jogos, houve muita reclamação por parte de diferentes delegações de que há falta de proteínas para os atletas no principal refeitório da Vila. Aparentemente, os organizadores fizeram o cálculo de 2,5 refeições por atleta e 600 toneladas de comida diariamente o que para mim soa estranho, pois não consigo imaginar nenhum atleta de alto rendimento que coma menos de 3 refeições ao dia ainda mais durante o evento esportivo mais importante do planeta.
A situação foi tão grave que há relatos de racionamento de ovos e carnes grelhadas. Num refeitório que fica aberto 24 horas por dia, sete dias por semana, com mais de 500 opções de receitas dividido em seis seções: duas dedicadas a comidas francesas, duas à comida internacional, uma dedicada à comida asiática e um à comida afro-caribenha, é inadmissível que os atletas fiquem subnutridos de proteínas.
Se por um lado temos um comitê organizador com esse tipo de erro, pelo outro, temos o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) fazendo um excelente trabalho pensando em contingências para toda e qualquer situação.
A delegação brasileira não sofre com a falta de comida, pois a base do time Brasil na França conta com cozinheiros brasileiros e comida brasileira disponível todos os dias para os atletas da delegação. Não só isso, o COB comprou dezenas de ares condicionados portáteis para instalar nos quartos da delegação em função do calor de Paris e após os organizadores decidirem não disponibilizar, por uma questão de sustentabilidade, os aparelhos em todos os prédios da vila olímpica.