Na quarta-feira (30), o Brasil inteiro parou para assistir e se emocionou com a equipe feminina de ginástica artística brilhando na final e conquistando o bronze inédito. Foi uma prova emocionante que prendeu a todos até a última tentativa de aparelho.
Além disso, novamente, pudemos perceber porque Rebeca Andrade é um dos grandes nomes, não só dessa geração, mas, da história da ginástica. No momento em que a equipe mais precisou, ela apareceu, tirando a nota mais alta entre todos os aparelhos do dia. Assim, fazendo com que o Brasil tivesse nota geral suficiente para chegar ao pódio inédito.
Houve alguns toques que deixaram essa conquista ainda mais especial. As gurias brasileiras foram verdadeiras guerreiras e orgulharam o país com um bronze, que foi tão celebrado quanto seria um ouro. E o que para nós, telespectadores, custou uma tarde de aflição e nervosismo, para elas custou uma vida inteira de abdicação, dedicação e resiliência.
Para Jade Barbosa, foram quase 20 anos de carreira na seleção brasileira batalhando desde os tempos de Daiane dos Santos até a consagração olímpica. Para Lorrane Oliveira além dos anos de treinamento, teve que lidar com um luto recente, o falecimento de sua irmã mais nova, há menos de 3 meses dos Jogos. Já para Julia Soares, de apenas 18 anos, teve todo o nervosismo de participar de sua primeira olimpíada e logo conquistar a mais alta honraria. Para Flavia Saraiva (Flavinha), foi a superação de ter caído no aquecimento das paralelas, cortar o supercílio, machucar o rosto e minutos depois fazer uma das melhores apresentações de solo da competição e Rebeca Andrade que dispensa apresentações, mas teve que aguentar, e tem correspondido, a três anos de pressão e expectativa de um país inteiro.
Para o governo federal custa mais de R$ 160 milhões ao ano o programa Bolsa Atleta, utilizado por aproximadamente 90% da delegação, o qual só começamos a colher os frutos em Tóquio – com recorde de medalhas de ouro e pódios. Agora, em Paris, com a expectativa de mais um recorde de pódios totais. Esses valores contemplam pouco mais de 9 mil atletas, entre crianças, jovens e adultos, muito pouco para um país de 200 milhões de habitantes. Somente 20 anos após o início do programa é que o Brasil, ainda com muitas dificuldades, consegue brigar de igual para igual com potências olímpicas em alguns esportes, o qual é o caso da ginástica.
Em todos os Jogos Olímpicos, durante duas semanas, vemos altos níveis de engajamento com atletas e esportes olímpicos, comentários nas redes sociais, revolta de torcedores, reclamação da falta de investimento no esporte e isso é importante para nós, atletas. Temos a oportunidade de aparecer, de sermos notados e termos nossas reivindicações ouvidas.
É importante que o grande público conheça, defenda os atletas e reivindique mais investimento nas modalidades, mas que se mantenha igualmente fervoroso quando se fala em corte de gastos para o esporte.
Veja bem, investimentos no esporte levam décadas para dar fruto e mesmo assim não há previsão de que o Brasil conseguirá se tornar uma potência olímpica nos próximos ciclos, não só pelo investimento federal, mas principalmente por não termos uma cultura poliesportiva no nosso país. Infelizmente ainda somos um país que gira em torno do futebol. Cada medalha custa muito para os mais diferentes atores envolvidos no esporte olímpico – governos, atletas e treinadores.
A Olimpíada é apenas o momento onde isso tudo culmina. Que lembremos disso durante os próximos três anos.