Quantas vezes já ouvimos a famosa frase "Religião, futebol e política não se discute"? Essa frase, embora difundida no nosso dia a dia, nunca fez parte do vocabulário da minha família.
Nunca existiram limites, fronteiras ou tabus em assuntos, seja eles quais fossem, portanto cresci sempre muito cercado de opiniões, debates e conversas sobre os mais variados tópicos. Naturalmente, à medida em que fui ficando mais velho e frequentando diferentes espaços, me tornei voz ativa nas mais diversas causas e situações. Na maioria desses espaços, há uma pluralidade de vozes junto com a minha, com exceção de um: o meu esporte — atletismo.
Fiz um recorte sobre minha vivência, mas quero expandir para os outros principais esportes do Brasil. Há poucas vozes politicamente ativas — principalmente de atletas em atividade, entre as dezenas de esportes olímpicos que são praticados no nosso país. Tentando lembrar aqui para citá-los, não consigo pensar em ninguém, afinal não há muitos e os poucos existentes não têm destaque. É muito estranho que em um país como o Brasil não existam essas lideranças no meio esportivo, é uma situação preocupante.
Ocasionalmente, vemos atletas estrangeiros se pronunciando politicamente das mais diversas formas, com falas em entrevistas e através de protestos ou atitudes fora do seu esporte. No Exterior, a cultura esportiva na qual eles crescem os permite ter essa liberdade.
Sobre o motivo, podemos divagar sobre diversas causas: a cultura do país com pessoas politicamente mais ativas, instituições mais permissivas em relação à livre expressão ou um grau mais alto de escolaridade dos atletas, por exemplo. Mas não há um motivo exato.
Quando eu digo que precisamos que atletas se politizem, não me refiro aqui à declarar apoio publico a candidato x ou y. Digo politizar no sentido de serem capazes de compreender a importância do pensamento e da ação política, principalmente por eles serem pessoas públicas com muito alcance e talvez um dos poucos grupos que tenha a possibilidade de serem ouvidos pelos mais variados públicos, além da própria imprensa.
É crucial que os atletas entendam esse privilégio e usufruam dele. Não em benefício próprio, que é o que corriqueiramente acontece, mas para trazer visibilidade às questões da sociedade a qual fazem parte e consigam representar, como modelos que são, pessoas que os apoiam.
Atletas representam muitas coisas: saúde, dedicação, busca pela melhora, espírito de solidariedade e perseverança, entre muitas outras coisas. Então, como se limitar à isso apenas? Atletas têm de ser os porta-vozes daqueles os quais representam, precisam tomar lados, precisam se posicionar contra injustiças, isso faz parte da responsabilidade de ser atleta e talvez seja o aspecto mais importante que eles precisam ter fora do esporte. A responsabilidade social que vem agregada ao tornar-se atleta é gigantesca.
Continua na semana que vem...