Não foram as filhas de Neuza Canabarro, Celina e Helena, que convenceram a mãe a realizar o último desejo do ex-governador Alceu Collares, o casamento religioso. A verdadeira mediadora do último ato da vida de Collares foi a Irmã Mareni Giaretta, que oferece conforto espiritual e acolhimento dos pacientes. A coluna errou ao dar o crédito às filhas de Neuza e a ex-primeira-dama pediu um reparo para destacar o papel da freira.
Irmã Mareni conta que quando Collares fez 90 anos, disse a ela que o maior presente que poderia ganhar era o casamento religioso (os dois já eram casados no civil). À época, Neuza entendeu que seria uma exposição desnecessária, já que Collares certamente insistiria em fazer um festão.
Há quatro anos, quando ele estava se tratando de um câncer no Mãe de Deus, voltou a pedir que a Irmã Mareni o ajudasse a realizar o sonho de casar na igreja.
— A senhora tem de nos ajudar a viabilizar esse casamento — pediu.
Mais uma vez, Neuza resistiu. Collares queria ir de cadeira de rodas para a igreja e Neuza ponderou que o ato poderia ser interpretado como um desejo dela de aparecer. Irmã Mareni conta como se deu a decisão de casar na UTI:
— Quando o vi nessa situação (sedado), lembrei do pedido e comentei com a Helena que eu tinha essa dívida com ele. Helena falou com a mãe e ela confirmou que era um desejo muito forte dele e concordou em se casar, depois de ler sobre o assunto e concluir que era possível.
Irmã Mareni se encarregou de montar um altar. A cuidadora e uma técnica de enfermagem decoraram o quarto da UTI com fitas de cetim. O frei Hélio Dalla Costa, capelão do Mãe de Deus, oficiou o casamento. Para surpresa da Irmã Mareni, acostumada a acompanhar pacientes em estado terminal, Collares abriu os olhos no início da cerimônia, com Neuza segurando a mão dele e com um buquê na outra mão.