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Tipos desumanos como o vereador caxiense Sandro Fantinel, agora expulso do Patriota, deveriam ser relegados à insignificância, mas viram personagens nacionais quando se manifestam de forma vil, preconceituosa e criminosa. O vereador faria um favor a Caxias do Sul se renunciasse ao mandato e fosse exercer outro ofício no qual não fosse tão nocivo à sociedade.
Em um infeliz discurso na tribuna na terça-feira, Fantinel disse que “com os baianos, que a única cultura que têm é viver na praia tocando tambor, era normal que fosse ter esse tipo de problema”. O “problema” ao qual se referia foi o resgate de mais de 200 safristas, em sua maioria oriundos da Bahia, de uma condição análoga ao trabalho escravo em Bento Gonçalves. No mesmo pronunciamento, o vereador sugeriu que empresários deem preferência a argentinos, que seriam “limpos, trabalhadores e corretos”.
Se os partidos em Caxias do Sul tiverem respeito pela verdadeira política, Fantinel ficará sem legenda para concorrer em 2024, mas essa é uma hipótese improvável. A história mostra que ideias toscas como as de Fantinel encontram eco em setores do eleitorado e não será surpresa se ele ampliar a votação na próxima eleição.
O preconceito contra nordestinos em geral e baianos em particular não é exclusividade desse vereador que, na prática, passa pano para a escravidão. Há poucos dias, foi o deputado federal caxiense Maurício Marcon (Podemos), que fez 140.634 votos em outubro, a destilar ataques aos baianos, comparando a Bahia ao Haiti.
Caxias, que legou ao Rio Grande do Sul políticos do porte de Pedro Simon, José Ivo Sartori, Germano Rigotto, entre tantos outros, tem de se envergonhar de ter dado mandato a um sujeito como Fantinel, legítimo produto da desqualificação política.
O vereador é um clássico da covardia combinada com ignorância. Usa a tribuna para uma manifestação que o governador Eduardo Leite classificou como “nojenta” e depois vem com a conversa de que foi mal interpretado, que "nem sempre a gente diz o que queria dizer", ou que a fala foi tirada do contexto. Não foi.
Fantinel transformou as mais de 200 vítimas da escravidão contemporânea em culpados, como se tivessem obrigação de trabalhar sem receber, comer comida estragada e dormir em alojamento sujo.