O que têm em comum o motoboy Ivanildo Gonçalves, da empresa VTCLog, o prefeito de Cerro Grande do Sul, Gilmar Alba (PSL), e a família do presidente Jair Bolsonaro? Não é preciso pensar 30 segundos para responder que é o estranho hábito de usar dinheiro em espécie em volumes acima do razoável quando se trata de transações legais. Se fosse no tempo da CPMF ainda se poderia imaginar que se tratasse de uma tentativa de driblar o pagamento do imposto, mas não. Que desconfiança é essa na seriedade do sistema financeiro?
Em tempos de PIX, TED e outras formas de pagamento pelo sistema bancário, o prefeito de Cerro Grande do Sul foi flagrado no Aeroporto de Congonhas com meio milhão de reais em caixas acomodadas na bagagem de mão. Se o dinheiro era lícito, destinado a uma transação lícita, por que expor-se ao risco de ser roubado ou flagrado pela Polícia Federal? Por mais estranho que possa parecer alguém andar com R$ 505 mil “em rama”, proibido não é, desde que o sujeito possa explicar e provar a origem lícita.
O silêncio do prefeito, que só promete dar alguma explicação no dia 14, faz crescer a suspeita de que há algo de errado com o dinheiro que carregava na mala. Sendo Alba um homem rico, que gosta de fazer "briques" e pechinchar usando o dinheiro em espécie, como ouviu o repórter Eduardo Paganella em uma incursão pela cidade de Cerro Grande, já poderia ter explicado a origem da bufunfa.
Na CPI da Covid, senadores levantaram a suspeita de que seria dinheiro para financiar os atos do Sete de Setembro. Por coincidência, mais R$ 1,5 milhão foram apreendidos em duas abordagens em rodovias de São Paulo. De novo, a pergunta: se era lícito, por que não passar pelo sistema bancário?
O motoboy Ivanildo não é quem tem de dar explicações. Os R$ 4 milhões que sacou não eram dele, mas da VTCLog, uma empresa que presta serviços ao Ministério da Saúde. Se pagou contas do diretor Roberto Carlos Dias, já exonerado, ou fez entregas no Departamento de Logística do ministério, não o fez por conta própria. Cumpriu ordens. De quem? Por que sacar na boca do caixa se qualquer pagamento pode ser feito pelo computador ou pelo telefone celular?
Há algo de estranho no fato de o motoboy, no primeiro momento, ter obtido com o ministro Nunes Marques, do STF, o direito de não depor na terça-feira (31), embora fosse testemunha e não investigado. Nesta quarta-feira, a VTCLog ofereceu o depoimento do motoboy à CPI.
O uso de dinheiro vivo para pagar contas também é prática corrente nas negociações da família do presidente Jair Bolsonaro, inclusive para pagar imóveis, expediente incomum no mercado imobiliário. É por essas e outras que dois filhos de Bolsonaro, o senador Flávio e o vereador Carlos, estão sendo investigados no inquérito da rachadinha. Carlucho teve os sigilos bancário, fiscal e telefônico quebrados na terça-feira, por decisão judicial, no inquérito da rachadinha.
No enredo desse samba carioca desfilam vários outros personagens ligados à família, tendo como uma espécie de porta-estandarte a segunda ex-mulher de Bolsonaro pai, Ana Cristina do Valle, mãe de Jair Renan, e um séquito de parentes empregados nos gabinetes dos Bolsonaro, alguns morando fora do Rio de Janeiro. Para os membros da primeira-família, vale a mesma pergunta: se era lícito, por que não usar o sistema bancário?
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