O fim de semana mais trágico desde que a pandemia começou, em março de 2020, mostrou que os prefeitos do Rio Grande do Sul, a quem cabe implementar as medidas restritivas de circulação, se dividem em três grupos:
- Os comprometidos com a saúde, que entendem a necessidade de restringir a circulação. Muitos desses adotam medidas até mais duras do que as previstas no decreto estadual;
- Os omissos, que fazem vista grossa para o descumprimento das restrições, para não ficar mal com os que delas discordam, mas não assumem a contrariedade para não perder o apoio das famílias que clamam por leito para um parente enfermo;
- Os negacionistas, que afrontam as determinações estaduais, alardeiam que não vão multar ninguém, defendem tratamentos preventivos sem comprovação de eficácia e acham que é possível abrir leitos num estalar de dedos.
Os do primeiro grupo têm o aplauso dos médicos que estão na linha de frente, porque compreenderam que não existe mágica. Sabem que não há como criar leitos na velocidade da demanda, até porque as equipes estão esgotadas e já começam a faltar respiradores. No acerto de contas com a História, estarão em paz com a sua consciência.
Os prefeitos do segundo grupo descobrirão na prática que não há como agradar a todos, nem fazer jogo duplo nas redes sociais. Se continuarem com discurso dúbio, acabarão tendo de responder ao Ministério Público, como já ocorreu no ano passado, quando a situação era menos tensa e o Rio Grande do Sul não tinha nenhuma região em bandeira preta.
Para o terceiro grupo, que inclui prefeitos de municípios em que sequer há representação do Ministério Público, caberá à Brigada Militar e à Polícia Civil fazer com que as restrições sejam obrigadas e desmanchar as aglomerações.
Ninguém gostaria de ver o comércio fechado, até porque o prejuízo é coletivo e a miséria também mata. Mas, como dizem médicos calejados, o navio está afundando e será preciso jogar parte da carga ao mar para salvar os passageiros.
Sem noção
O protesto “contra o lockdown”, convocado para quarta-feira, 14h, em frente ao Piratini revela que:
1. Os organizadores não sabem o que é lockdown. Se fosse, a garota-propaganda não estaria na rua gravando vídeos;
2. Ignoram a trágica realidade da falta de leitos e de respiradores e as dezenas de mortes evitáveis que o colapso provoca.