
No mesmo dia em que morreu o prefeito de Viamão, Valdir Jorge Elias, o Russinho (MDB), 66 anos, dois colegas da Região Metropolitana receberam o resultado do teste confirmando que foram contaminados pelo coronavírus: Ary Vanazzi (PT) de São Leopoldo e José Arno Appolo do Amaral (MDB), de Alvorada. Os dois estão em isolamento domiciliar. Vanazzi tem 61 anos e Appolo, 79.
O presidente da Famurs, Maneco Hassen (PT), está preocupado com os colegas de diferentes regiões do Estado. Mesmo usando máscara e respeitando os protocolos, os prefeitos acabam se expondo ao vírus, no contato com funcionários e com a população.
Hassen lamentou a morte de Russinho, mas, seguindo o protocolo para mortes decorrentes da covid-19, não pode comparecer ao enterro, reservado aos familiares.
— Com muita tristeza e dor, abraçamos a todos os familiares e a população de Viamão pela irreparável perda — disse o prefeito de Taquari.
Maneco conversou com Vanazzi e tentou falar com Appolo, mas não conseguiu. O prefeito de Alvorada começou a sentir os sintomas de gripe na sexta-feira (17) e está isolado desde o fim de semana, mas só recebeu a confirmação do teste positivo nesta quarta-feira (22).
Em Vanazzi, o mal-estar se manifestou na quarta-feira da semana passada. Como foi detectado um surto entre servidores da prefeitura, com 38 casos confirmados, o prefeito fechou o centro administrativo e resolveu fazer o teste, cujo resultado deu positivo. Com dois filhos pequenos, Vanazzi estuda a possibilidade de cumprir a quarentena em um sítio para proteger a família.
O prefeito de São Leopoldo está assustado com a velocidade de disseminação do vírus e defende a adoção de medidas mais rígidas para conter a circulação de pessoas. O município tem 16 leitos de UTI e funcionários para o atendimento de apenas 10, mas está com 14 pacientes internados.
— Já disse ao governador e ao prefeito (Nelson) Marchezan que se não tivermos medidas mais drásticas, esse abre e fecha vai se estender por mais dois meses — disse Vanazzi à coluna
Appolo era crítico do isolamento. Em maio, numa entrevista ao Portal Alvoradense, o prefeito contou que sugeriu aos comerciantes que driblassem as medidas restritivas impostas pelo governo do Estado, atendendo aos clientes em uma porta lateral, para evitar a quebradeira no comércio. Disse ter avisado aos empresários que não se preocupassem porque a guarda municipal não multaria ninguém.
Pressão sem fim
Está cada dia mais difícil a vida dos prefeitos que não querem embarcar na onda do “kit milagroso” que inclui cloroquina, ivermectina, azitromicina e zinco para tratamento de de pacientes da covid-19. A pressão começa por empresários ansiosos pela retomada da atividade econômica e se estende aos eleitores em geral.
Em Novo Hamburgo, a Associação Comercial e Industrial (ACI) publicou anúncio de página inteira no jornal NH cobrando medidas da prefeita Fátima Daudt (PSDB) e sugerindo a compra de medicamento sem eficácia comprovada.
Fátima encaminhou longo ofício à ACI respondendo aos questionamentos e lembrando que não há evidência científica de que a cloroquina seja eficaz no tratamento aos pacientes da covid-19.
Em São Leopoldo, a prefeitura viu o preço do comprimido do vermífugo ivermectina subir de R$ 0,16 para R$ 7.