Demorou mais do que se poderia imaginar, mas o ex-policial, ex-segurança, e ex-motorista do senador Flávio Bolsonaro está preso. Fabrício Queiroz, esse arquivo vivo que detém informações cruciais para desvendar o esquema de rachadinha no gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro e as relações com milicianos é amigo do presidente Jair Bolsonaro. Amigo antigo, daqueles de emprestar dinheiro na confiança, sem declarar à Receita Federal.
Foi como devolução de parte de um empréstimo de R$ 40 mil que Bolsonaro pai justificou o depósito de um cheque de R$ 24 mil feito por Queiroz na conta da primeira-dama Michele Bolsonaro. À época (2019), Bolsonaro disse que o dinheiro foi depositado na conta de Michele porque ele estava muito ocupado e não tinha tempo para ir ao banco.
Queiroz foi preso na chácara do advogado da família Bolsonaro, Frederick Wassef, em Atibaia – por ironia, a mesma cidade do interior de São Paulo onde fica o sítio do ex-presidente Lula e motivo de uma das suas condenações.
A operação que resultou na prisão de Queiroz tem outros alvos de mandados de busca e apreensão. Entre eles, o escritório político da família Bolsonaro, em Bento Ribeiro, interior do Rio de Janeiro.
As movimentações atípicas de Queiroz, totalmente incompatíveis com sua renda comprovada, foram identificados pelo antigo Coaf, um órgão que estava subordinado ao Ministério da Justiça e que Bolsonaro transferiu para o Banco Central. Essa mudança está na longa lista de reclamações do ex-ministro Sergio Moro, que agora acusa o governo do qual participou de não ter compromisso com o combate à corrupção.
Flávio tentou, com várias ações, barrar a investigação. A primeira, ainda em 2019, com a alegação de que tendo sido eleito senador já contaria com foro privilegiado. Conseguiu vitórias temporárias, mas acabou derrotado na Justiça. Como os fatos ocorreram ao tempo em que era deputado estadual, a Justiça entendeu que cabia ao Ministério Público do Rio de Janeiro conduzir a investigação.
Nas contas de Flávio, foram identificados depósitos em dinheiro até hoje sem explicação convincente. Em um mês, foram 48 depósitos no valor de R$ 96 mil. O senador alegou que fez os depósitos de R$ 2 mil em R$ 2 mil porque era o limite máximo aceito no caixa eletrônico da agência bancária localizada no interior da Assembleia do Rio.
Queiroz também não deu explicações razoáveis para a movimentação de mais de R$ 1 milhão. Disse que comprava e revendia carros usados, o que nunca ficou comprovado.
Flávio atribuiu ao ex-assessor a cobrança de parte dos salários dos funcionários do gabinete, mas disse que isso era feito para contratar outros, de maneira informal.
O Ministério Público também encontrou fortes indícios de ligação de Flávio com as milícias e de lavagem de dinheiro na loja de chocolates de Flávio Bolsonaro e de sua esposa. Se a prisão de Queiroz vai servir ou não para elucidar o caso, depende do comportamento do ex-motorista. Uma eventual delação do ex-motorista tem o poder de uma bomba atômica na família do presidente, mas é possível que ele, pela fidelidade aos amigos, se conforme com a perspectiva de uma condenação e mantenha o silêncio e as explicações esfarrapadas que deu até aqui.