
Desde 1° de janeiro, quando Michel Temer deixou a Presidência da República e perdeu o foro privilegiado, a prisão preventiva consumada nesta quinta-feira (21) era esperada. Temer responde a uma dezena de inquéritos. A dúvida era quando e por qual acusação a Lava-Jato prenderia o ex-presidente a quem o Ministério Público acusa de ser chefe de uma quadrilha que opera há 40 anos.
Temer não caiu sozinho. Com ele foram dois amigos do peito, o coronel João Batista Lima e o ex-ministro Moreira Franco, integrante do seleto grupo que tinha copa franca no Palácio do Jaburu, apelidado de Angorá na lista de propinas da Odebrecht. Moreira Franco era um dos poucos ex-governadores do Rio que ainda não tinha passado pelo xadrez. Sérgio Cabral e Luiz Fernando Pezão estão presos, enquanto Anthony Garotinho e a mulher, Rosinha, já estiveram na cadeia.
Temer, Lima, Moreira e mais sete que tiveram a prisão decretada são acusados de envolvimento em um esquema de desvios de recursos públicos na Eletronuclear, mais especificamente nas obras de Angra 3.
Temer só estava livre porque a Câmara garantiu sua imunidade até o final do mandato, arquivando duas denúncias do Ministério Público Federal e impedindo que fosse processado no Supremo Tribunal Federal.
Findo o mandato, os inquéritos que estavam no Supremo baixaram para a primeira instância. Nesse, especificamente, Temer caiu nas mãos do juiz Marcelo Bretas, o mais duro entre os remanescentes da Lava-Jato.
Assim como o ex-presidente Lula, que foi condenado pela primeira vez em um dos processos menos rumorosos, Temer teve a prisão decretada por suposto envolvimento em um esquema menor do que outros pelos quais responde. O escândalo dos Portos e o caso JBS, que abalou o governo em 2017, são bem mais expressivos. Recorde-se que até hoje seu ex-assessor Rodrigo Rocha Loures não disse para quem era o dinheiro apreendido em mala pela Polícia Federal há dois anos
A prisão de Temer atinge o coração do MDB, sequelado pelo envolvimento de outros caciques em escândalos de grande repercussão e pela derrota de seu grupo nas urnas. Geddel Vieira Lima, outro amigo da turma do vinho, está preso e ainda não explicou a origem dos R$ 50 milhões encontrados em um apartamento Salvador. Ex-presidentes da Câmara como ele, Henrique Eduardo Alves foi preso no ano passado e Eduardo Cunha em 2016. Romero Jucá perdeu o mandato no Senado e tem encontro marcado com a Justiça de primeiro grau. O mesmo ocorre com Eliseu Padilha, que também é investigado e que também desceu para a primeira instância. Nenhum deles está entre os que tiveram a prisão decretada hoje.