Em março, meus dois filhos vão receber o diploma de conclusão do curso universitário. Eduardo preferia se formar em gabinete, porque não tem apego aos ritos, mas vai fazer um esforço porque sabe o quanto é importante para mim dar solenidade a esse momento. Não quis, porém, que assistíssemos à apresentação do seu trabalho de conclusão. Luiza, ao contrário, nos convidou e deixou claro que gostaria de ter o pai e a mãe no estúdio em que apresentou seu vídeo, síntese das 220 páginas do TCC.
Foram 15 minutos intensos, em que vi minha filha de 23 anos superar a timidez e explicar à banca o processo de concepção e execução de um filme que trata de skate e feminismo e pode ser resumido como um manifesto pela igualdade. Seu objeto de estudo era uma marca de acessórios para skatistas que ignorava o crescente interesse das meninas por esse esporte.
A partir da indignação com a diferença de premiação entre os vencedores do Street League Super Crown 2016, em Los Angeles – o campeão Shane O'Neill ganhou US$ 150 mil e a campeã , US$ 30 mil – minha menina estruturou seu trabalho. Usou ao voz poderosa da nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, autora de Sejamos Todos Feministas, como parte da trilha sonora para mostrar que mulheres podem fazer as mesmas manobras nas rampas.
Os professores captaram as metáforas, elogiaram a técnica, os efeitos sonoros, os planos e outras sutilezas que minha ignorância no esporte e na composição de trilhas sonoras não permitiu compreender. E deram-lhe nota máxima. O que mais me comoveu foi a segurança para falar de equidade de gênero, essa bandeira tão necessária e tão deturpada em pleno 2018.