Os suspeitos de corrupção que contavam os dias para a saída do procurador Rodrigo Janot, descobriram nos últimos dias que sua sucessora, Raquel Dodge, não veio ao mundo a passeio, nem está disposta a manchar sua biografia com títulos como o de engavetadora-geral da República. O último a conhecer o peso da caneta da procuradora é o ministro da Agricultura, Blairo Maggi (PP), denunciado nesta terça-feira (2) por corrupção ativa.
O mais comum entre os agentes públicos é a denúncia por corrupção passiva (recebimento de vantagens indevidas). Blairo foi denunciado como corruptor, por supostamente participar de um esquema de compra e venda de cadeiras no Tribunal de Contas do Estado, em 2009, quando era governador de Mato Grosso. Caberá ao STF decidir se abre um processo e torna Maggi réu, como já fez com outros ministros de Michel Temer. Em nota, a assessoria do ministro disse que a denúncia causa profunda estranheza e indignação, “uma vez que o mesmo fato já foi objeto de investigação em 2014 e arquivado a pedido da própria PGR”. O problema é que, depois disso, houve a delação premiada do ex-governador Silval Barbosa (PMDB), que detalhou o esquema e incriminou Blairo.
Na semana passada, Raquel denunciou por corrupção passiva e lavagem de dinheiro o ex-presidente Lula, a senadora Gleisi Hoffmann, presidente do PT, os ex-ministros Paulo Bernardo (marido de Gleisi) e Antonio Palocci, o empresário Marcelo Odebrecht e Leones Dall’agnol, ex-chefe de gabinete da Casa Civil da Presidência. Coincidência ou não, a denúncia foi feita pouco depois de a 2ª Turma do STF ter determinado, por 3 votos a 2, que os trechos da delação da Odebrecht que envolvem a reforma do sítio de Atibaia e as negociações para a compra de um terreno para o Instituto Lula saiam das mãos do juiz Sergio Moro e passem para a Justiça Federal em São Paulo.
Na denúncia, Dodge sustenta que a Odebrecht colocou R$ 64 milhões à disposição do PT em 2010, em troca de decisões do governo que favorecessem a empresa. Uma das contrapartidas seria um empréstimo concedido a Angola pelo BNDES, no valor de R$ 1 bilhão, para contratação de serviços da Odebrecht. Contra Gleisi, a acusação é de que na campanha de 2014, ela aceitou receber doação de caixa 2 da Odebrecht no valor de R$ 5 milhões. Pelo menos R$ 3 milhões teriam sido efetivamente repassados naquele ano.
Nomeada por Michel Temer, a procuradora já havia mostrado que não deve obrigação a ninguém e não poupou o presidente nem seus amigos mais íntimos, como o advogado José Yunes, o coronel aposentado João Baptista Lima e o ex-deputado Rodrigo Rocha Loures, o homem da mala. Todos tiveram os sigilos quebrados e Temer está sendo obrigado a explicar a origem do patrimônio da família, incluindo os imóveis em nome de Marcela Temer e do filho Michelzinho, e a reforma na casa de uma das filhas do presidente, Maristela, paga pelo coronel Lima, em 2014. Maristela vai depor hoje na Polícia Federal.