Ex-presidente do Banco Central, ex-presidente do BankBoston e ex-conselheiro de multinacionais, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, 72 anos, sonha agora em comandar o país. Apegou-se à ideia no ano passado, depois de ser convencido por deputados do PSD, legenda à qual é filiado, a se colocar à disposição para concorrer. Com um suposto acordo entre o partido e o PSDB, de Geraldo Alckmin, Meirelles foi rifado e, agora, vem conversando com outras siglas para viabilizar sua corrida presidencial.
Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, falou abertamente sobre seu desejo e admitiu que não descarta entrar para o PMDB, de Michel Temer. Na sexta-feira, mesmo dia da publicação de suas respostas, ligou para o chefe para dar explicações.
Os obstáculos que Meirelles enfrenta começaram a aparecer antes mesmo de anunciar oficialmente sua candidatura e, se conseguir colocar-se em pé na disputa, terá de encarar dificuldades ainda maiores. Embora seja um nome confiável para o mercado, o ministro tem de conquistar e se fazer entender para a população que não compreende o economês. A taxa básica de juros caiu como nunca na história do Comitê de Política Monetária (Copom), mas poucos eleitores relacionam o feito com seu dia a dia. A inflação também caiu, outro legado bom para os cidadãos, mas, na prática, a conta do supermercado não estacionou proporcionalmente.
Outras medidas gestadas na Fazenda, como o teto de gastos públicos e a reforma previdenciária, são impalatáveis para parte do eleitorado. Como convencer a população de que essas ideias impactam significativamente a saúde das contas públicas?
No campo pessoal, há quem diga que Henrique Meirelles não é carismático. Nem conhecido do grande público, nem tem uma dicção perfeita. Para desviar desses obstáculos, já conversou com Duda Mendonça e outros marqueteiros. O ex-presidente do Banco Central tem divergências com seu partido, fazendo com que a luta para se candidatar seja solitária.
No campo político, estão as maiores pedras no caminho. A crise de liderança no centro impacta na preferência do eleitor, que tem à disposição pelo menos 20 candidatos ao Palácio do Planalto. As bandeiras, as ideologias e as propostas ficam dispersas. Ao mesmo tempo que concorre com centristas, Meirelles disputa a defesa do governo federal com Temer, titular da cadeira até agora. No mesmo telefonema em que esclareceu pontos ao presidente sobre sua entrevista ao jornal paulista, o ministro afirmou que não vê sentido a base aliada dividir votos e defendeu candidatura única do atual governo.
É difícil tentar adivinhar quem pode ganhar mais a confiança do público: um presidente com apenas 6% de aprovação ou um ministro da Fazenda que se especializou em falar apenas para o mercado.