Crítico ferrenho dos rotineiros encontros fora da agenda praticados pelo presidente Michel Temer, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, tomou rumo contrário às suas teses e não viu problema em encontrar-se com o advogado de Joesley Batista, Pierpaolo Bottini, dentro de um bar, em Brasília.
Usando óculos escuros, sentado ao fundo do estabelecimento entre caixas de cerveja, Janot foi flagrado por um frequentador do local, que enviou imagens ao site O Antagonista. A aparência é de um encontro com ares de clandestinidade, apesar do ambiente público. O adjetivo clandestino foi usado pelo procurador-geral na denúncia contra Temer para se referir à reunião do dia 7 de março, quando Joesley foi até o Palácio do Jaburu na calada da noite para gravar a conversa que teve com o presidente.
Pierpaolo disse que encontrou Janot por acaso no bar e que os dois não trataram sobre "temas jurídicos". O chefe do Ministério Público Federal informou que não conversou temas profissionais com o advogado, mas "apenas amenidades que a boa educação e cordialidade prezam entre duas pessoas que se conhecem por atuarem na área jurídica".
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Embora Janot tenha pedido a prisão de Joesley e de Ricardo Saud um dia antes, o encontro informal em uma mesa de bar com Pierpaolo é questionável porque o advogado representa um empresário que fechou acordo de colaboração com benefícios considerados excessivos – com direito à imunidade contra prisão dos delatores. O contrato fechado entre os executivos da JBS e o Ministério Público Federal será revisado, mas depende de aval do ministro do STF Edson Fachin. A tendência é a prisão temporária de Joesley e Saud reverter-se em prisão preventiva, quando não há prazo para a soltura.
Janot deu munição ao grupo aliado de Michel Temer, que questiona o trabalho da Procuradoria-Geral da República, responsável por investigar o titular do Planalto. Apesar da displicência com o que o encontro pode aparentar, se estivesse implicado em um trama de negociatas com a JBS, Janot não teria anunciado, no dia 4 de setembro, o pedido de investigação dos áudios encaminhados ao MPF por engano pelos delatores e não teria colocado em suspeição o acordo de delação fechado por ele.