Se fizer um retrospecto de seu último mês, o presidente Michel Temer deve ter a sensação de que matou um leão e outros animais a cada dia. A crise ética que vive o Palácio do Planalto foi escancarada no dia 17 de maio e, na sexta-feira, ganhou outro capítulo: a afirmação de Joesley Batista à revista Época de que o presidente é o chefe de uma organização criminosa. Com a certeza de que vive o pior momento de sua carreira política, desde que se filiou ao PMDB, em 1981, Temer reagiu: rechaçou as palavras do dono da JBS e respondeu que vai processá-lo.
Agora, enquanto ainda possui maioria no Legislativo, o presidente torce para que eventual denúncia da PGR por corrupção passiva, obstrução à Justiça e organização criminosa chegue rápido à Câmara. Já está combinado que o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), vai agilizar a apreciação do tema.
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Ao contrário de sua companheira de chapa, Dilma Rousseff, afastada da Presidência pelo "conjunto da obra" e por não ter uma base forte no Congresso, Michel Temer goza do pleno exercício do cargo por ter em mãos deputados suficientes para barrar denúncia contra ele. Tem a seu dispor, também, a poderosa máquina do governo federal, que liberou, desde o dia 17, R$ 1 bilhão em emendas a parlamentares. A aliados, a tropa de choque que comanda o Planalto assegura que tudo continuará como está. Mesmo com o desgaste político, defensores de Michel Temer têm a certeza de que os primeiros sinais de recuperação da economia manterão os brasileiros resignados em casa.
Em meio ao caos, a vitória no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) deu alívio ao presidente, que usa a absolvição como um de seus melhores argumentos a deputados que estão em cima do muro. "Demonstrou força", disse um dos aliados. E funcionou: por enquanto, mesmo rachado, o PSDB ficou do lado do Planalto. Nos bastidores, diz-se que uma mão lavou a outra.
Apegado a uma falsa estabilidade, Temer confirmou a agenda na Rússia e na Noruega para tratar sobre energia e meio ambiente. Fiel escudeiro do presidente, Rodrigo Maia comandará o país interinamente por uma semana.
Com a certeza de que, apesar de todas as denúncias, continuará no cargo mais importante do país, o presidente reorganiza sua base para votar o mais depressa possível a reforma trabalhista. O peemedebista quer transparecer absoluta normalidade no país.
Aliás
Há um ano, a presidente Dilma Rousseff, mesmo com a caneta e com a distribuição de cargos a ex-aliados, já estava afastada do cargo. Nem os R$ 15 milhões que Joesley diz que pagou a deputados para votarem contra o impeachment foi o suficiente para barrar o processo.