A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) deu uma demonstração de força ao reunir mais de cem advogados para a foto de entrega do pedido de impeachment do presidente Michel Temer. Já havia mostrado a unidade da classe na reunião da noite de sábado, quando o conselho aprovou o pedido de impeachment. Esse movimento reforça a pressão para que Temer renuncie, mas não tem poder para fazer o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), quebrar o pacto de fidelidade a Temer e abrir o processo de afastamento.
O presidente da OAB, Claudio Lamachia, montou um documento até mais consistente do que aquele assinado por Hélio Bicudo, Reale Junior e Janaína Paschoal, pedindo o impeachment de Dilma Rousseff. No caso de Dilma, ainda não eram conhecidas as delações que a comprometem. Foi preciso forçar a barra para encontrar um delito que se enquadrasse na definição de "crime de responsabilidade". Mesmo que os discursos tenham falado em corrupção no governo dela, Dilma foi oficialmente cassada pelas pedaladas fiscais, uma abstração para a maioria dos brasileiros. Na prática, Dilma perdeu o mandato pelo conjunto da obra. Porque não sabia jogar o jogo do Congresso, a economia ia de mal a pior e o então presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), era um inimigo ardiloso e vingativo.
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Temer, que trabalhou nas sombras pelo impeachment, foi gravado em uma conversa nada republicana com Joesley Batista, o delator a quem recebeu na calada da noite, no Palácio do Jaburu.
A OAB ignorou a polêmica em torno da perícia da gravação entregue por Joesley. No pedido, sustentou que Temer procedeu de modo incompatível com o cargo, em possível advocacia administrativa e em ato omissivo próprio no exercício da função pública.
Lamachia tem dito que, se o presidente recebe uma pessoa a quem chama de "delinquente e fanfarrão", ouve que ela está comprando um juiz e um procurador do Ministério Público, e nada faz, ele está cometendo crime de responsabilidade.
Lamachia foi procurado por parlamentares que desejavam pegar carona no prestígio da OAB e acompanhar a entrega do pedido, mas não aceitou. Pediu a senadores da oposição que deixassem a OAB fazer "um ato técnico e cívico".