Não dá para levar a sério a proposta de realização de eleições gerais em outubro, feita pelo senador Valdir Raupp (PMDB). A figura da convocação de eleições em plena vigência do mandato do presidente, dos deputados e dos senadores não está prevista na Constituição. Seria casuísmo, como foi o parlamentarismo em 1961, mudar a Constituição para garantir a posse de João Goulart, que desembocou no golpe de 1964.
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A ideia de renúncia coletiva e de realização de nova eleição parece simpática diante de uma crise política que está arrasando a economia, mas os próprios parlamentares a consideram inviável. O presidente do Senado, Renan Calheiros, disse que se deveria guardar a proposta como uma carta na manga, mas não demonstra a mínima convicção.
– Como dizia o Garrincha, é preciso conversar com os russos – compara a senadora Ana Amélia Lemos (PP).
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A reação da presidente Dilma Rousseff vai na mesma linha. Em tom irônico, Dilma respondeu assim à pergunta dos jornalistas sobre a proposta de eleições gerais:
– É uma proposta. Apenas isso. Convence a Câmara e o Senado a abrir mão dos seus mandatos e aí vem conversar comigo.
Uma das principais adeptas da ideia é a ex-senadora Marina Silva (Rede), que nada tem a perder. Pelo contrário, só teria a ganhar porque lidera as pesquisas. O governador de Santa Catarina, Raimundo Colombo, também aderiu à tese.
Outro possível candidato, o senador Aécio Neves (PSDB), não se entusiasma:
– Neste instante, quaisquer dessas medidas criativas e utópicas servem apenas para fragilizar a tese do impeachment.
O prazo é o primeiro obstáculo para realizar uma eleição geral em outubro. Seria preciso, primeiro, construir um improvável consenso. Depois, aprovar uma emenda constitucional em dois turnos, por três quintos dos votos, nas duas casas do Congresso.
Como a Justiça Eleitoral poderia organizar, em menos de seis meses, uma eleição extraordinária, coincidindo com a escolha de prefeitos e vereadores? Quem poderia ser candidato? Um governador, por exemplo, poderia disputar a Presidência? As regras seriam as mesmas da eleição municipal, sem financiamento empresarial de campanha?