
A defesa da presidente Dilma Rousseff, apresentada pelo advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, pode ser resumida em duas frases:
1. A presidente não cometeu crime de responsabilidade e, portanto, o impeachment seria sinônimo de golpe;
2. A aceitação do pedido foi uma vingança do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, depois que o PT anunciou o voto contra ele no Conselho de Ética.
É possível que Cardozo não tenha conseguido alterar nem um voto sequer na comissão do impeachment. Os deputados que a integram mostram pouco interesse no que os depoentes têm a dizer. Em sua maioria, já chegaram com opinião formada e só prestam atenção aos depoimentos que reforçam seu ponto de vista. Foi assim com os juristas Miguel Reale Jr. e Janaína Paschoal, autores do pedido de impeachment, e com os dois defensores de Dilma, o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, e o advogado tributarista Ricardo Lodi Ribeiro.
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O governo e a oposição sabem que a verdadeira batalha não se trava na comissão, mas no plenário. A estratégia no colegiado é evitar goleada, mas o parecer, contrário ou favorável ao impeachment, é apenas um indicativo que garantirá manchete em todos os jornais e ocupará amplos espaços nos noticiários de rádio e TV. A decisão que importa é a dos 513 deputados: são eles que decidirão o futuro de Dilma. A oposição precisa reunir 342 votos a favor da abertura do processo no Senado. Ao governo basta que 172 votem contra, se abstenham ou simplesmente não apareçam na Câmara.
É sobre os indecisos que se concentram as pressões do governo e da oposição. Pelas redes sociais, os líderes do movimento pró-impeachment tentam constranger os deputados que podem sumir de Brasília no dia da votação. Na linha da Fiesp, que está patrocinando em todo o Brasil uma campanha de pressão sobre os indecisos e de constrangimento aos defensores do governo, os oposicionistas advertem que os eleitores cobrarão caro dos que se omitirem.
Na frente governista, a estratégia é dividir os partidos, oferecendo aos aliados remanescentes os cargos que ficarão vagos com a exoneração dos indicados pelos líderes do PMDB que mudaram de lado. O PP é um dos principais alvos de pressão.
Incomodados com o jogo da direção nacional, o presidente do partido no Rio Grande do Sul, Celso Bernardi, e o deputado Marcel van Hattem vão a Brasília hoje pedir a convocação do diretório nacional para deliberar sobre a saída do governo e a posição em relação ao impeachment. Se até o meio da tarde não forem recebidos pelo presidente Ciro Nogueira, os dirigentes gaúchos vão entrar com ação judicial, pleiteando uma convenção extraordinária com base no artigo do estatuto que prevê a convocação do diretório com o apoio de um terço dos membros.