A guerra entre Israel e o Hamas não é religiosa. O grupo terrorista que iniciou o conflito com o massacre de 7 de outubro não está interessado na religião muçulmana, tampouco na causa palestina. Seu negócio é a destruição de Israel. Também a Benjamin Netanyahu pouco importa a religião judaica. O negócio dele é poder.
Estamos falando de política. E uma das táticas conhecidas desse meio é utilizar a religião para manipular a fé para ganhos futuros. O Hamas vem manipulando o Islã há décadas, assim como outras organizações terroristas, como a Al-Qaeda e o Estado Islâmico o fizeram. Netanyahu, mais recentemente, também vem fazendo isso com os setores mais religiosos da sociedade israelense. De formas diferentes.
Embora não seja uma guerra religiosa, isso não significa que esse componente esteja completamente afastado do conflito. Jerusalém, por exemplo, é a cidade sagrada para as três grandes religiões monoteístas - o cristianismo, o judaísmo e o islamismo. Sua porção Leste é reivindicada como capital por israelenses e palestinos. É uma questão política. Fosse apenas uma questão religiosa, nada impediria que judeus visitassem a Esplanada das Mesquitas ou muçulmanos fossem até a área do Muro das Lamentações - como, aliás, qualquer seguidor dessas fés podem ir ao Vaticano, mesmo que não professem religião católica. Mas, quem já foi a Jerusalém, sabe como é praticamente impossível a coexistência entre os dois lados nesses espaços.
Por mais que se tente evitar, o componente religioso está presente em vários aspectos nas guerras do Oriente Médio. Naquele sábado trágico, 7 de outubro do ano passado, era o fim de um importante feriado judaico, o Simchat Torah, que comemora a proteção Divina ao povo judeu durante 40 anos no deserto. Cinquenta anos e um dia antes, em 1973, foi durante o Yom Kippur, o Dia do Perdão, o feriado mais sagrado do judaísmo, que Israel foi surpreendido por uma coalizão militar liderada pelo Egito e pela Síria. Um dia de completa tranquilidade, de jejum e sinagogas cheias converteu-se em um inferno.
Neste domingo (10), começou o Ramadã, o mês sagrado dos muçulmanos. Os praticantes vão fazer jejum entre o nascer e o pôr do sol, aumentar a quantidade de orações e se esforçar mais em praticar caridade, um dos preceitos da religião. Neste ano, coincide com mais uma guerra.
Netanyahu havia estabelecido o domingo (10) como o fim do prazo para o Hamas libertar o restante dos reféns israelenses sob pena de iniciar um ataque por terra a Rafah, o último conglomerado urbano de Gaza ainda poupado da ofensiva e onde estão concentrados três quartos de toda população do território. A ocupação deve acelerar o aumento do número de mortos.
Para o Egito, a preocupação já não é se, mas quando começa a ofensiva do outro lado de sua fronteira. As negociações para um cessar-fogo falharam. O país já monta um plano que prevê campos de refugiados no Sinai. Mas uma coisa é a preparação, a outra é autorização para que, diante de um ataque, os palestinos ingressem em território egípcio. Será que a ditadura de Abdul Fatah Khalil Al-Sisi, que enfrenta dura crise econômica, abrirá os portões? Tenho dúvidas. Isso permitiria a infiltração de terroristas do Hamas com a multidão de deslocados.
Netanyahu admite que a pressão internacional tem aumentado para que suspenda a guerra. Mas afirmou que o exército seguirá operando contra o Hamas, inclusive em Rafah. É claro o entendimento de que sem avançar sobre o território, Israel perde a guerra. Será um sangrento Ramadã.