Não se pode dizer que a família real britânica não seja conectada com seu tempo — ao menos nos escândalos. O amor impossível da princesa Margaret pelo capitão Peter Townsend, nos anos 1950, não foi materializado, primeiro, porque ela tinha 14 anos quando se conheceram e, anos depois, porque o rapaz era divorciado. O divórcio era ainda um tabu na realeza — "o casamento cristão é indissolúvel", disse Margaret após conversas com o arcebispo de Canterbury, em 1955. Ironicamente, em uma geração, esse rompimento legal seria aceito na realeza — e a própria Margaret se divorciaria em 1978.
Diana e seus 50 minutos da entrevista sobre seu relacionamento com James Hewitt, sua batalha contra a bulimia e sua vida como "prisioneira" na realeza inauguraram uma era de princesas de carne, osso e sentimentos, quando falar sobre saúde mental ainda era inimaginável. E por que não lembrar do famoso vazamento (muito antes de WikiLeaks ou Vaza-Jato) da conversa de seis minutos ao telefone entre Charles e sua então amante, hoje rainha consorte Camilla, na qual eles fantasiavam intimidades:
— Oh, Deus. Eu só vou viver dentro de suas calças ou algo assim. Seria muito mais fácil! — diz Charles.
— O que você vai virar, um par de calcinhas? — questiona, aos risos, Camilla.
— Oh, Deus me livre, um Tampax, pela minha sorte — responde o príncipe, referindo-se à marca de absorvente interno.
O episódio, de fazer ruborizar os mais conservadores súditos de Sua Majestade, ficou conhecido como "Tampogate" em referência a "tampon", "absorvente", em inglês.
Quando discursos de ódio e racismo começaram a pulular, sem freio, pelas redes sociais, Harry e a esposa Meghan alegaram "preocupações e conversas sobre como a pele de seu filho Archie poderia ser escura quando ele nasceu". Ora, a própria família real estava afastando seus membros por preconceito.
Não surpreende, portanto, a literal crise de imagem que a Coroa vive, neste momento, diante das evidências de manipulação de fotos feitas por computador. Há cerca de 10 dias, cinco agências internacionais de notícias retiraram de suas plataformas uma imagem de Kate, mulher de William, devido a incongruências — o alinhamento da mão esquerda da princesa Charlotte na foto, por exemplo.
Após o tema vir a público, a princesa de Gales se desculpou, alegando, que, "como muitos fotógrafos amadores", ocasionalmente faz experiências com edição. Nos últimos dias, a agência Getty Images afirmou em comunicado que encontrou uma segunda foto manipulada — dessa vez, na imagem, aparece a rainha Elizabeth II cercada por netos e bisnetos. Há pelo menos oito sinais de que a foto foi modificada antes de ser divulgada ao mundo, sem que isso tenha sido informado.
Rainha morta, rei posto, os escândalos continuam intra e extramuros de Buckingham. Analógicos ou digitais.