Gustavo Petro, o 12º presidente de esquerda no atual cenário da América Latina, assumiu no domingo (7) a Colômbia, tornando-se o primeiro líder desse campo político na história do país, tradicional aliado dos Estados Unidos e historicamente governado pela direita.
O ex-guerrilheiro do M-19, hoje com 62 anos, terá de lidar, antes de tudo, com as enormes expectativas de aliados na região, que falam na consolidação de uma nova "maré rosa", apelido dado à ascensão em série de políticos de esquerda na primeira década dos anos 2000 no subcontinente. Essa "onda", iniciada por Hugo Chávez na Venezuela, e estendida a Lula no Brasil, Néstor Kirchner na Argentina, Michelle Bachelet no Chile, Evo Morales na Bolívia, Rafael Correa no Equador, Fernando Lugo no Paraguai e José "Pepe" Mujica no Uruguai - para ficarmos em alguns nomes - foi substituída pela sucessão de governos de direita. Mauricio Macri na Argentina deu início à reversão, que teve continuidade em praticamente todos os demais países da região.
Petro terá desafios históricos pela frente: implementar o acordo de paz com a guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), retomar as negociações com o segundo grupo extremista, o Exército de Libertação Nacional (ELN), implementar políticas de combate ao narcotráfico, problema crônico colombiano, e restabelecer contatos com a Venezuela, do ditador Nicolás Maduro, estremecidas desde a autoproclamação de Juan Guaidó como presidente, em 2019 - os dois países mantêm embaixadas e fronteiras fechadas.
Há desafios também urgentes, que provavelmente passarão à frente na agenda de Petro. Problemas que nos unem como América Latina e que dificultam a reedição da "maré rosa", tempo do chamado boom das commodities. Hoje, ainda que os preços dos produtos que o subcontinente exporta - minério, soja, carnes e petróleo - tenham voltado a subir, há novas realidades que se impõem a dificultar a retomada: uma guerra na Europa, um mundo pós-covid-19 a ser reconstruído, a economia global em desaceleração, a inflação e o juro em alta.
Para ficarmos no país de Petro, o Produto Interno Bruto (PIB) colombiano deve ter crescimento menor este ano - estimado em 6,5%, contra 10,6% no ano passado. A inflação, problema mundial atual, beira os dois dígitos: 9,6%. A pobreza saltou de 36% para 42,5%.
Se olhar para o Sul, Petro pode tentar evitar equívocos de países onde a esquerda é governo - e, de novo, suplantar o excesso de expectativas. No Chile, Gabriel Boric, jovem oriundo dos protestos de 2019, vê sua popularidade cair para 35%, uma das mais baixas da região. Na Argentina, Alberto Fernández enfrenta inflação de mais de 60% e precisou dar posse ao terceiro ministro da Economia em um mês.
E há ainda desafios novos para o colombiano: a promessa de mudança da matriz econômica e produtiva para uma economia verde, base de seu plano de governo, é algo praticamente impossível em quatro anos (na Colômbia, não há reeleição). Principalmente em um país no qual as exportações de petróleo são o carro-chefe das receitas.
Na transição, Petro deu sinais positivos, mostrando-se um conciliador, o que já é muito em temos de polarização política: por meio de alianças, ele conseguiu a maioria nas duas casas do parlamento, o que lhe garante não apenas governabilidade, mas certo respiro para os primeiros meses na Casa de Nariño - principalmente diante da enorme resistência do forte setor militar do país.