Em guerras civis, não são incomuns massacres de grupos que, ao chegarem ao poder, passam a perseguir quem foi desbancado. Foi assim quando os kosovares albaneses, perseguidos outrora por Slobodan Milosevic, passaram a se vingar dos sérvios nas Guerras dos Bálcãs.
No Afeganistão atual, onde o Talibã derrotado em 2001 voltou ao poder em 2021, e agora passa a perseguir seus antigos algozes. E nesse retorno as magistradas têm sido as principais alvo. São caçadas pelos assassinos que condenaram, conforme denúncia da rede BBC, de Londres.
Conforme a reportagem publicada esta semana, elas foram pioneiras dos direitos das mulheres, defensoras ferrenhas da lei e buscaram justiça para os mais marginalizados. Cerca de 220 juízas afegãs estão escondidas por medo de retaliação sob o novo regime da milícia.
Os relatos obtidos pela BBC são impressionantes. Uma delas, identificada como Masooma, julgou o caso de um membro do grupo pelo assassinato de sua esposa. O homem foi condenado a 20 anos de prisão.
- Depois que o caso acabou, o criminoso se aproximou de mim e disse: 'Quando eu sair da prisão, farei com você o que fiz com minha esposa' - contou ela.
Depois que o Talibã voltou ao poder, em 15 de agosto, ela começou a receber mensagens em seu celular:
- Ele me disse: 'Vou te encontrar para ter a minha vingança'.
Todas as juízes receberam ameaças e, agora, encontram-se escondidas. Trocam de residência de tempos em tempos. Também tiveram suas casas revistadas por combatentes do Talibã.
Além do risco de violência, elas perderam o sustento de suas famílias. Estão sem salários e com contas bancárias congeladas.
Procurado pela BBC, o comando da milícia, que agora é governo, diz que irá investigar as denúncias e repetiu a promessa de "anistia geral" para todos os ex-funcionários do governo afegão.