Um dos mais detalhados documentos sobre as atividades terroristas no mundo, o Country Reports on Terrorism, elaborado pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos, revela, entre outras coisas, a preocupação do governo americano com a “longa história de atividades do grupo extremista libanês Hezbollah, na Tríplice Fronteira, entre Brasil, Paraguai e Argentina, e destaca que grupos como o Estado Islâmico e a rede Al-Qaeda seguem interessados em atuar na região.
O documento de 303 páginas, cuja edição 2020 foi divulgada nesta quarta-feira (24), cita a investigação em andamento sobre as práticas de um cidadão egípcio que mora no Brasil e é suspeito de integrar a rede fundada por Osama bin Laden.
O relatório cita a investigação contra Mohamed Ahmed Elsayed Ahmed Ibrahim, comunicada pelo FBI à Polícia Federal (PF) no ano passado: “A notificação, a primeira do tipo na região, afirmava que Ibrahim estava sendo procurado para interrogatório por suposto envolvimento em plano de ataques contra interesses dos Estados Unidos”, diz o texto.
O comunicado do FBI às autoridades brasileiras sobre as suspeitas que pairam sobre Ibrahim foi feito em agosto. No mesmo mês, ele foi ouvido por agentes da polícia federal americana no Ministério Público Federal em São Paulo, por mais de oito horas. Seu nome estava na lista de procurados do FBI e foi retirado da relação após o depoimento, a pedido de sua defesa. A investigação segue.
Conforme o FBI, Ibrahim seria ex-membro da Al-AQaeda e teria operado como facilitador para a organização terrorista.
Ibrahim, que nega as acusações, vive com a mulher no Brasil desde 2018. É empresário e mora em Guarulhos, na Grande São Paulo. Ele atribui o caso à perseguição política no Egito, após o ex-presidente Mohamed Mursi ser deposto por militares em 2013. Mursi foi eleito durante a Primavera Árabe, mas acabou preso e morreu após passar mal em uma audiência em um tribunal no Cairo.
Segundo o Itamaraty, Ibrahim possui autorização de residência e situação regular no país.
Ainda no capítulo dedicado ao Brasil, o governo americano destaca a cooperação contra o terrorismo entre os dois países, lembrando parceria iniciada em 2016, por conta dos preparativos para os Jogos Olímpicos. “A Polícia Federal, principal agência antiterrorismo do Brasil, trabalhou em estreita colaboração com as autoridades policiais dos Estados Unidos e de outras nações para avaliar e mitigar possíveis ameaças terroristas”, diz o texto.
O documento destaca que não houve novas prisões ou condenações relacionadas à Operação Hashtag, de 2016, que desmantelou um grupo pró-Estado Islâmico que pretendia atacar durante a competição. As prisões, entre elas uma no Rio Grande do Sul, ocorreram duas semanas antes do início dos Jogos. O MPF denunciou oito pessoas por organização terrorista e associação criminosa). O texto também afirma que não há novas detenções ou condenações sobre a Operação Átila, que, em 2017, investigou o uso de aplicativos de celular para promover grupos terroristas.
O texto destaca ainda a parceria estabelecida durante a viagem do presidente Jair Bolsonaro a Washington, em março, segundo a qual ficou acertada a participação de um oficial de ligação da PF no CBP National Targeting Center para troca de informações em tempo real sobre suspeitos de terrorismo ou contrabando que utilizem o Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, o mais movimentado da América do Sul. O governo americano elogia, ainda, a lei que bloqueia ativos ligados à lavagem de dinheiro e financiamento ao terrorismo, aprovada pelo Congresso e sancionada por Bolsonaro em março do ano passado.