Tenho pena do homem que vejo pela janela. Ele se prepara para atravessar a Avenida Jerônimo de Ornelas, de costas para mim, próximo ao Centro de Saúde Modelo. Não sabe que do terceiro andar acompanho sua marcha manca, sua dificuldade para empurrar um carrinho de supermercado vazio e arrastar pelo asfalto dois pés bem tortos. Não sei se é uma deficiência ou uma grave lesão, só sei que aquilo também lhe atinge as costas, encurvadas como um quebra-molas – mas ainda assim ele segue andando, devagarinho, agora quase no meio da rua.
Quem se importa?
Opinião
Cena comum em Porto Alegre: um homem furunga o lixo e a gente não faz nada
Vejo meia dúzia de pedestres passando por ele e me culpo por pensar que, se fosse um cachorro, talvez tivesse mais sorte
Paulo Germano
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