Não queria estar na pele do prefeito, mas, como não me candidatei ao cargo dele, o que me resta neste momento como eleitor e cidadão é avaliar seu trabalho. E Sebastião Melo, ao comunicar novas restrições nesta quinta-feira (25) – antes de Eduardo Leite anunciar o fim da cogestão –, foi assustadoramente brando.
Sei que Melo é um homem ponderado, avesso a radicalismos, mas ser firme agora não significa ser agressivo, pelo contrário, significa ser piedoso: são medidas enérgicas que farão pessoas parar de morrer. Na live transmitida pelo Facebook, um trecho em particular me chamou a atenção. O prefeito dizia que alguns parques da cidade só seriam fechados se as aglomerações continuassem.
– Queremos fazer um apelo à população que não ocupe esses locais. Não vamos, em um primeiro momento, fechar a Orla.
Como assim "em um primeiro momento"? A situação é catastrófica, já tem gente morrendo por falta de atendimento, só em Porto Alegre havia 113 pessoas aguardando leitos de UTI nesta quinta-feira (25), os médicos já fazem ordem de prioridade para entubar pacientes, estamos experimentando o horror da Itália, da Espanha, de Manaus, então que história é essa de "primeiro momento"?
E a ideia de "fazer um apelo à população" até pode ser legal, mas estamos há um ano fazendo apelos à população – que às vezes colaborou, às vezes não. Agora, deu: se é para fechar os parques, que feche imediatamente. Não estou dizendo que essa é a medida certa – até porque, segundo a esmagadora maioria dos infectologistas, o contágio ocorre principalmente em locais fechados, pouco ventilados e com muita gente. Quer dizer: fechar parques e manter shoppings abertos pode ser um estímulo à transmissão do vírus.
Mas Melo já disse que faria de tudo para preservar o comércio aberto, então que fizesse de tudo para reduzir a circulação de outra forma. Abrir mais leitos, como defendeu nesta quinta-feira, é enxugar gelo: nunca serão abertos leitos suficientes, nem na velocidade necessária, enquanto a demanda for desgovernada – sem falar que faltam equipamentos e profissionais para essa ampliação.
Diante de medidas tão acanhadas (que incluíam fechar os espaços culturais e proibir passageiros em pé nos ônibus), a sorte é que o governador decidiu se impor: suspendeu a cogestão e determinou que, a partir de sábado (27), todos os municípios em bandeira preta sigam regras realmente restritivas. Não há outra saída para o atual momento.