Ninguém sabe bem o que é certo. Essa é que é a verdade. Muita gente séria e respeitada defende o fechamento do comércio como forma de frear a circulação do vírus. Eu aqui, por mais traumática que a achasse, sempre entendi como necessária essa medida em momentos de horror. Por outro lado, não são só negacionistas que consideram a estratégia duvidosa e arriscada.
– Não temos uma evidência clara de que medidas tão drásticas sejam efetivas. Cidades da Europa, por exemplo, que adotaram essa conduta seguem com índices altíssimos de óbitos – diz o epidemiologista Jair Ferreira, consultor do Hospital de Clínicas de Porto Alegre.
Como fazer o que é certo? Valeria a pena fechar milhares de estabelecimentos, fomentando desemprego e levando empresários à pindaíba, sem a absoluta convicção de que essa medida adiantaria? Em contrapartida, com o sistema de saúde galopando rumo ao colapso, vale a pena simplesmente pagar para ver? Em Porto Alegre, quando duras restrições foram adotadas, em junho do ano passado, aparentemente a tática funcionou.
Ninguém tem a resposta certa. Todo mundo, no máximo, acha. A questão é que, no nosso caso, o governador acha uma coisa e o prefeito da Capital acha outra. Se dependesse de Eduardo Leite, atividades econômicas seriam suspensas em todas as cidades com bandeira preta. Mas ele decidiu ceder às ponderações dos prefeitos liderados por Sebastião Melo – para quem o comércio jamais deveria ser punido.
Chegou-se, então, ao famoso meio-termo: em troca de manter a cogestão – que dá autonomia para os prefeitos participarem das decisões –, o governador impôs uma suspensão geral das atividades a partir das 20h em todo o Estado. Foi uma decisão acertada? Não sei, talvez tenha sido a decisão possível.
Meu ponto é: por que ainda precisamos de um pai para dizer o que pode, o que não pode, o que abre, o que fecha, o que é certo, o que é errado? Será que esse paternalismo seria necessário se, nas últimas semanas, não houvesse aglomerações no Litoral, nem festas clandestinas, nem calçadas entupidas de gente bebendo cerveja, nem o frequente desleixo com a máscara nos bairros e subúrbios?
Ser independente do papai, isso, sim, seria o correto. Mas, como não conseguimos, ainda precisamos ficar de castigo. O problema é que temos dois pais, e cada um pensa de um jeito. Pelo menos chegaram a um acordo, mas é isso: nem eles sabem bem o que é certo.