Os blocos que nos últimos anos devolveram o Carnaval de rua a Porto Alegre, arrastando multidões pela região central da cidade, trabalham para manter vivo o espírito da festa.
A três semanas do feriadão, agremiações como Bloco da Laje, Turucutá, Areal do Futuro e Maria do Bairro se preparam para um insólito Carnaval sem desfile na rua.
– É um momento de recolhimento, de pensar o Carnaval como um patrimônio que deve ser preservado e lembrado, mas que precisa apontar para o futuro – diz o cineasta Zeca Brito, fundador do Maria do Bairro, que promete "alguma atividade online" para marcar a passagem da data.
O Bloco da Laje já tem planos mais concretos: no próximo fim de semana, quando o grupo faria seu desfile – que ocorria sempre no último domingo de janeiro –, será lançada uma loja virtual. Diego Machado, diretor artístico do bloco, diz que a ideia é oferecer um "acervo de relíquias" de carnavais anteriores: camisetas, copos, cartazes desenhados por artistas, brasões, sacolas ecológicas.
– A gente tem tentado manter o contato com o nosso público desde o início da pandemia. Tem sido desafiador, fizemos entregas interessantes em 2020. Lançamos clipe, festa virtual, vídeos com entrevistas – conta Diego.
Além da loja, o Bloco da Laje ainda planeja um evento online no Carnaval – mas a batucada só vai sair se houver patrocínio para cobrir custos. Já o Areal do Futuro (que carrega o legado do Areal da Baronesa, um dos berços do Carnaval em Porto Alegre) cogita inclusive reuniões presenciais.
No Quilombo do Areal, na Cidade Baixa, onde vivem os membros do bloco, 90% da população já recebeu a primeira dose da vacina. Daniel da Silva Rouvel, vice-presidente da agremiação, acredita que seria possível retomar os ensaios dentro da comunidade no próximo dia 9 – eu aqui, honestamente, acho difícil, já que eventos desse tipo seguem proibidos na cidade.
Ao longo do ano que passou, o Areal do Futuro viveu situação semelhante à da Turucutá: suas oficinas que formavam músicos para escolas de samba e para os próprios blocos foram interrompidas. A Turucutá, no entanto, conseguiu gravar uma música com um gravador circulando pela casa de vários integrantes do grupo.
– Nossa saída de Carnaval costumava ser em março. Até lá, estamos pensando em alguma coisa para mexer com o saudosismo de quem sente nossa falta – diz o percussionista e produtor da Turucutá, Ian Angeli.
– Os blocos envolvem muita gente, então qualquer iniciativa, agora, em primeiro lugar, precisa ser um bom exemplo – completa Zeca Brito, do Maria do Bairro.