Faz 15 anos que nenhum Fusca circula como táxi em Porto Alegre, mas, curiosamente, 270 placas da cidade ainda homenageiam o velho beetle. O fusquinha taxista aparece no entorno de hospitais, supermercados, shoppings, faculdades, escolas, igrejas, sempre sinalizando o melhor lugar para os passageiros embarcarem. Mas por que, afinal, um carro que saiu de linha há mais de duas décadas ainda é usado como símbolo?
Comecemos do início. Essa placa surgiu no alvorecer dos anos 1980, quando mais de 90% da frota de táxis da Capital era formada por Fusca. Se você tem mais de 35 anos, deve lembrar: os taxistas arrancavam o banco do carona, o passageiro ia sentado atrás, e a porta era fechada com uma cordinha.
– A corda era importante não só para alcançar, mas para evitar que a porta abrisse demais. Se ela abria muito, era um problema, as dobradiças iam arrebentando – relembra o presidente da Associação dos Permissionários Autônomos de Táxi, Walter Barcellos.
O fusquinha era um sucesso pelo custo-benefício: não era caro, tinha um bom motor e, se um para-lama despencasse no meio da rua, era barbada encontrar outro na oficina da esquina. Havia uma ampla oferta de peças. Como o carro era pequeno, tirava-se um dos bancos para garantir que qualquer passageiro grandão pudesse entrar – e, no lugar do assento antigo, era possível largar as sacolas de compras, já que o porta-malas era terrível.
– A coisa mudou quando chegou uma nova remessa de Passat. Era mais confortável, tinha um ótimo preço, aí o Fusca foi perdendo espaço – recorda Walter Barcellos.
Mas a plaquinha seguiu lá, com o desenho do beetle nos pontos de táxi. Segundo a assessoria da EPTC, só nos anos 2000 é que um novo modelo de placa foi concebido: são 197 unidades que passaram a exibir – e exibem até hoje – os prefixos dos veículos cadastrados em cada ponto. Essas placas têm o logotipo de um carrinho que, embora até pareça, não é bem um Fusca.
Fusca mesmo, com o inconfundível capô curvado, continua nas 270 plaquinhas que dizem "embarque". Estão por todo lado. E por que não foram trocadas?
– É que na época, lá por 2007, alguns taxistas pediram para manter o desenho do Fusca – conta o diretor-técnico da EPTC, Marcelo Hansen, para depois refletir: – Eles entendiam que, de alguma forma, aquilo era um ícone importante da cidade, e acho que tinham razão.
De fato, tinham sim. Memórias a gente não apaga, a gente celebra. Deu até saudade daquela porta com cordinha – ok, já passou.
Com Rossana Ruschel