As transformações demográficas atravessadas pelo Rio Grande do Sul, com o envelhecimento da população e a aproximação do período em que o número de habitantes deve começar a cair, já se refletem nas estatísticas mais recentes do mercado de trabalho. A mão de obra local em escassez crescente faz os empregadores recorrerem à contratação de imigrantes. São estrangeiros que chegam ao Estado em busca de oportunidades de trabalho que não encontram em seus países de origem, imersos em crises de toda ordem.
Espera-se que, no Estado, exista a compreensão adequada dos benefícios da chegada de estrangeiros
O fenômeno é bem ilustrado pelos números da Fundação Gaúcha do Trabalho e da Assistência Social (FGTAS). Em 2024, o Rio Grande do Sul criou – entre admissões e demissões – 63,5 mil vagas com carteira assinada. Os estrangeiros preencheram 9,7 mil postos, o equivalente a 15% do saldo positivo do Estado. No total, são mais de 42 mil trabalhadores vindos do Exterior que labutam em solo gaúcho com carteira assinada. Levando em conta a informalidade, o total de estrangeiros deve ser bem maior.
O índice de desemprego no Rio Grande do Sul fechou 2024 em 5,2%, abaixo da média nacional e um dos menores índices da série histórica, conforme os dados do IBGE. De acordo ainda com o instituto, o Estado é a unidade da federação com o maior percentual de idosos no país (com 20,15% da população com 60 anos ou mais) e a quantidade de residentes – também resultado da queda da taxa de fecundidade – deve começar a declinar em 2027. Ainda que a tecnologia possa substituir em parte a mão de obra e o Estado precise perseguir o aumento da produtividade, por meio do avanço na educação, ainda haverá grande demanda por trabalhadores para uma série de atividades.
Não haverá muitas alternativas para preencher vagas a não ser valer-se de estrangeiros e mesmo brasileiros de outras regiões onde a economia não é tão dinâmica. São recorrentes os relatos, por exemplo, de que o setor de frigoríficos, um dos segmentos mais relevantes da economia do Estado, estaria em apuros não fosse os colaboradores vindos do Exterior, como venezuelanos e haitianos. Também tem despertado a atenção a chegada de argentinos, em especial da província de Misiones, para trabalhos temporários de safristas e em outras tarefas na agricultura.
A imigração, hoje, é um assunto controverso no mundo, notadamente em nações ricas do Hemisfério Norte, onde a xenofobia é crescente. Espera-se que, no Estado, exista a compreensão adequada dos benefícios da chegada de trabalhadores estrangeiros e se busque, também, atrair capital humano de maior qualificação diante da necessidade de desenvolver setores com maior densidade tecnológica. É a própria competitividade da economia gaúcha que está em jogo.
Os imigrantes, por seu turno, estão em busca do sonho de uma vida honrada e produtiva e até da possibilidade de ajudar familiares que ficam em suas terras natais. O Rio Grande do Sul, dotado de uma população formada por descendentes de imigrantes de diversas origens e etnias e povos de diferentes culturas, deve ser receptivo e acolhê-los com respeito, assegurando seus direitos, como o de condições dignas de trabalho. A relação a ser estabelecida é a de vantagens mútuas para o Estado e para aqueles que aqui quiserem se estabelecer.