Ainda que seja um dos principais atingidos pela medida assinada pelo presidente dos EUA, Donald Trump, de impor tarifas de 25% sobre as importações de aço e alumínio, qualquer reação do Brasil à medida deve ser amplamente estudada. Todos os possíveis reflexos precisam ser considerados para evitar perdas ainda maiores para o país.
Pouco mais de 20 dias após o retorno do republicano à Casa Branca, se confirma a desconfiança de que Trump voltaria a usar a estratégia surrada de ser extremamente agressivo em um primeiro momento para depois negociar. Ao fim, tira alguma vantagem e canta vitória para seu público interno. É algo parecido com o que ocorreu em 2018, quando sobretaxou os mesmos produtos, mas acabou negociando cotas para o aço brasileiro. Também é semelhante ao episódio recente em que voltou atrás na decisão de taxar todas as compras do Canadá e do México, após um acordo sobre fronteiras.
Todos os possíveis reflexos precisam ser considerados para evitar perdas ainda maiores para o Brasil
O Brasil foi o segundo maior fornecedor de aço para os EUA em 2024, superado apenas pelo Canadá. Será bastante prejudicado pelas tarifas anunciadas nesta semana, por conseguinte. Além disso, há os efeitos indiretos. Com os EUA mais protecionistas, o mercado brasileiro passa a ser mais cobiçado pelas siderúrgicas estrangeiras, como as da China. O tarifaço de Trump começa a valer no dia 12 de março. Ainda há, portanto, um prazo de um mês para buscar abrir um canal de negociações produtivo e tentar reverter ou ao menos amenizar a barreira comercial. É tarefa para a diplomacia profissional do país, com o auxílio do próprio setor, em contato com a clientela norte-americana.
O governo e seus porta-vozes podem ajudar se calcularem bem declarações para evitar provocações que ampliem a tensão entre duas gestões ideologicamente distantes. É hora de ser racional, e não de agir por impulso ou com o fígado. A própria forma como o Itamaraty trabalhou na crise dos deportados, com comedimento, é modelar e produziu bons resultados. Após um primeiro voo com brasileiros em situação degradante, o segundo chegou sem informações de qualquer violação a direitos ou maus-tratos.
Do governo federal saem notícias de que se estuda, com cautela, a reação mais adequada. Fala-se em medidas de reciprocidade, e não exatamente de retaliação. Dependeria ainda de uma análise de como os demais países e blocos atingidos – incluindo aliados históricos como Canadá, União Europeia e Coreia do Sul – responderiam às tarifas norte-americanas. Mas não deve ser descartada inclusive a hipóteses de a melhor estratégia ser não sobretaxar qualquer bem ou serviço. Diz-se que a atitude de Trump, com a pretensão de proteger a indústria local, é um tiro no pé por elevar a pressão inflacionária nos EUA. Revidar com um disparo que saia pela culatra não é o plano mais consequente.
Guerra comercial só tende a produzir efeitos deletérios para os envolvidos. Economias fechadas perdem competitividade porque criam artificialidades que desincentivam a busca por produtividade e reformas voltadas a racionalizar os custos da economia. O próprio Brasil, que ano passado elevou as tarifas de importação de aço, é um exemplo.