A brusca queda da popularidade do governo Luiz Inácio Lula da Silva, demonstrada pelo Instituto Datafolha, acende o alerta para o risco de o Planalto se tornar ainda mais disposto a medidas populistas que signifiquem elevação de gastos ou drible em limites fiscais. Conforme a pesquisa publicada na sexta-feira, a parcela dos que consideram a gestão boa ou ótima caiu de 35% em meados de dezembro para 24%. O percentual de ruim e péssimo pulou de 34% para 41%. Trata-se da pior avaliação de Lula ao longo de seus três mandatos.
O desafio da equipe econômica será relembrar que intervenções de cunho eleitoreiro costumam produzir desastres
O perigo à espreita é crescer a pressão política por iniciativas que, como mostra a história, pioram o problema que pretensamente deveriam solucionar. O desafio à frente da equipe econômica será relembrar que intervenções voluntaristas de cunho eleitoreiro costumam produzir desastres. Aumentar gastos, renúncias ou forçar contabilidades criativas fariam a intranquilidade recrudescer.
O governo federal, após longa estabilidade nas avaliações, está nas cordas por fatores como a alta do dólar, a inflação dos alimentos e a inabilidade para reagir às ofensivas da oposição nas redes sociais, como a crise do Pix. A esta altura, ao menos o diagnóstico correto sobre as causas de cada um destes acontecimentos já deveria ter sido feito para adotar respostas cabíveis e descartar soluções mágicas. A moeda norte-americana chegou a R$ 6,30 em dezembro, mas ontem era negociada na casa dos R$ 5,70. As últimas semanas foram de alívio por não se confirmarem os piores temores sobre a guerra comercial do presidente dos EUA, Donald Trump. Se a trajetória recente do dólar _ que influencia o preço dos alimentos _ é de queda, sem nenhuma grande novidade interna, o melhor é evitar novos ruídos. Em relação à inflação da comida, não há neste momento o que fazer, a não ser esperar que a grande safra agrícola a ser colhida no país neste ano, a despeito da estiagem no Estado, produza uma acomodação nos preços ao longo do ano.
O governo tem na manga iniciativas com potencial de amenizar o mal-estar da população com a carestia. A principal é o projeto de lei que amplia a isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil mensais. Mas deve ter a compensação bem assegurada e costurada politicamente para não gerar ainda mais solavancos que possam bater no câmbio e atrapalhar o Banco Central na tarefa de tentar trazer a inflação para dentro da meta. Outra ação que ainda gera desconfiança é a de beneficiar 22 milhões de famílias com a distribuição grátis de gás de cozinha. A dúvida é de onde tirar dinheiro no orçamento para a abrangência pretendida pelo Planalto, mais de quatro vezes maior do que a atual.
Um reflexo mais imediato da perda de popularidade será a aceleração da reforma ministerial como forma de dar mais espaço a outros partidos que formam a trôpega base do governo no Congresso. É ainda uma estratégia para evitar o esvaziamento do apoio ao Planalto, com vistas a 2026. Se, a pouco mais de um ano e meio da eleição, a sacudida na Esplanada será imediata, espera-se que não exista açodamento em medidas econômicas. A alternativa mais racional é empreender todos os esforços para recuperar a credibilidade da política fiscal.