Entre os grandes ramos da economia brasileira, a indústria é o segmento que gera mais preocupação nos últimos anos pela perda de dinamismo e competitividade. Basta citar que, conforme o IBGE, o nível de produção segue 15,6% abaixo do recorde observado em 2011. Ainda assim, 2024 chegou ao fim com números expressivos para o setor. Conforme o mesmo IBGE, o crescimento foi de 3,1% sobre o ano anterior, que por sua vez teve uma variação de 0,1% em relação a 2022. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostrou na sexta-feira que o faturamento real em 2024 subiu 5,6%, a maior alta desde 2010. O mercado de trabalho forte e o crescimento do crédito jogaram a favor.
Pela primeira vez em uma década, não foi um avanço significativo sobre uma base bastante deprimida
É ainda interessante notar que, pela primeira vez em uma década, não foi um avanço significativo sobre uma base bastante deprimida. Pode ser o sinal de um melhor momento mais duradouro, e não efêmero, como em épocas recentes. O Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) observa que em 2021 o setor cresceu 3,9%, mas foi um desempenho insuficiente para compensar as retrações de 4,5% e de 1,1% nos dois anos anteriores. Em 2017, a alta de 2,5% ficou longe de anular as quedas de 6,4%, 8,3% e de 3% nos três anos prévios.
Mesmo as fábricas gaúchas, apesar do desempenho mais tímido, reflexo da enchente de maio, saíram-se bem. Afinal, a despeito das adversidades, ainda registram um crescimento de 0,3% no acumulado do ano até novembro, último dado divulgado pela Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs). Foram 13,7 mil postos de trabalho com carteira assinada, de acordo com os dados do Novo Caged. Em todo o Brasil, chegou-se a 306,8 mil vagas formais.
Os sinais mais recentes, no entanto, trazem cautela e apontam para uma desaceleração que pode perdurar em 2025. Pelos dados do IBGE, os três últimos meses do ano foram de recuo na produção. O ciclo de alta do juro e o dólar volátil e em patamar alto tornam o cenário mais desafiador.
Merece atenção o ramo de bens de capital, que inclui máquinas e equipamentos empregados para gerar outros bens. Quando o desempenho é vigoroso, é sinal de confiança para tocar investimentos produtivos, essenciais para o Brasil elevar a capacidade de crescimento do PIB. Após o avanço de 9,1% em 2024, teme-se que o aperto monetário leve a um freio forte nos investimentos. A taxa Selic está em 13,25% ao ano, patamar bastante sufocante, vai subir mais um ponto percentual em março e, no mercado financeiro, existem apostas de que pode chegar a 15% neste ano.
Pelo lado positivo, é de se lembrar que a economia doméstica segue aquecida e o país deve colher uma boa safra de grãos neste verão. Ademais, a atividade no Brasil tem, nos últimos anos, surpreendido. Resta aguardar que o ambiente externo não se deteriore e o governo federal tenha a disciplina fiscal necessária para permitir uma melhora nas condições de crédito, sem artificialismos. A indústria é um setor gerador de inovação e tecnologia. Emprega mão de obra mais qualificada na comparação com os demais segmentos e mais bem remunerada na média. Será altamente promissor para o país se encontrar condições de continuar a se expandir de forma contínua e sustentável.