Dia desses, em uma das inúmeras mesas-redondas de Copa do Mundo, estava lá o William Bonner. Vestia uma camiseta retrô de Portugal e fazia piadas com os outros integrantes da mesa.
– Olha, ele tem pernas! – brincou um humorista da bancada.
– Dá para notar que você não tem assistido muito ao Jornal Nacional. Eu já tenho pernas há uns bons anos.
Bonner se referia às mudanças implementadas no noticiário noturno da Globo em 2015, quando passou a caminhar pelo estúdio e estragar nossa fantasia de que os âncoras estão sempre de terno e bermuda.
O erro de Mark Zuckerberg, pelo visto, foi convidar gente demais para a mesma festa. É impossível se divertir com pessoas tão diferentes em um só ambiente
Àquela época, alguns brasileiros conheciam bem não só as pernas, mas também as refeições, os programas de final de semana e outros detalhes do cotidiano da então família Bernardes Bonner graças à presença marcante do apresentador nas redes sociais. Referindo-se a si mesmo como “o tio”, Bonner questionava seus seguidores até sobre a cor das gravatas. Até que um dia parou. Na mesa-redonda, perguntaram o porquê.
– Não é que eu abandonei os meus perfis. Eles ainda estão lá. Mas comecei a fazer um cálculo simples: sempre que eu entrava em uma rede social, eu saía dela mais irritado do que havia entrado. Então, resolvi dar um tempo – resumiu.
Veja só, pensei eu, então não sou o único com esse sentimento. Embora Bonner fosse craque mesmo no Twitter, a frase dele me fez lembrar de uma das minhas resoluções de final de ano: deletar o aplicativo do Facebook do celular.
Todo dia 31 de dezembro, me livro de três coisas da minha vida que me fazem mal. No entardecer de 2017, a rede social completou a trinca junto aos cafés de máquina e aos sushis vagabundos. Não fui corajoso o suficiente para deletar o perfil, mas ao menos me livrei de algo que me fazia olhar para o celular de cinco em cinco minutos e, não raro, gastar bílis em discussões improdutivas por horas com semidesconhecidos.
Esta coluna, todavia, não é para eu ficar aqui me achando um ser elevado e evoluído. É para pensar onde foi que Mark Zuckerberg falhou comigo. Porque eu juro que gostava do Facebook. Mesmo com o que ele tinha de constrangedor, como os elogios das tias ou as marcações indesejadas em fotos infelizes, eu me divertia. O próprio Facebook confirma isso quando me mostra postagens de anos atrás e me convida a voltar a ser o sujeito bem-humorado e galhofeiro lá de 2012, 2013. Quando passei a me irritar mais do que me divertir?
Desde que decidi escrever este texto, voltei a frequentar a rede social mais assiduamente em busca de respostas. Me senti, como diria Renato Russo, circulando em uma festa estranha com gente esquisita. Esbarrei em uma ira furibunda contra os torcedores brasileiros que sacanearam uma russa, uma espécie de concurso de quem chutava cachorro morto com mais força. Li notícias sobre a administração Trump engaiolando crianças. Até aí, tudo bem, mas me surpreendi com alguns comentários favoráveis. A única parte descontraída foram alguns trocadilhos com os países da Copa, agora que o Peru ficou de fora.
O erro de Mark, pelo visto, foi convidar gente demais para a mesma festa. Instigado a comentar qualquer coisa sobre qualquer assunto, me recordava de que aquilo seria visto por um círculo social que já abrange amigos do Ensino Médio, vizinhos da praia, chefes, namorada, colegas da Primeira Comunhão e até pessoas que eu nem sequer me lembrava de onde conhecia. Sem contar os estranhos que podem, a qualquer momento, acusar um pisão no pé e puxar briga no salão.
É impossível se divertir com pessoas tão diferentes em um só ambiente. Não nos leve a mal, Mark, mas eu e o Bonner vamos mesmo dar boa-noite e cair fora.