Conheço o líder opositor venezuelano Henrique Capriles. Já o entrevistei três vezes. É um sujeito moderado, que só aceita chegar ao poder legitimado pelo voto - foi o candidato derrotado por Nicolás Maduro em 2013, em um resultado apertado e suspeitíssimo. Para você ter uma ideia, ele era contra o impeachment de Dilma Rousseff. Vem dele a defesa do referendo revogatório, um recall legítimo e constitucional de meio do mandato. Destoa de outros oposicionistas venezuelanos, que querem tomar o poder pela pressão ou com uma reforma constitucional que diminua o atual mandato em meio ao jogo - ele deplora essa hipótese. Portanto, de golpista ou classificações assim ele não pode ser acusado.
Pois bem, Capriles está denunciando que ficou "sitiado" durante quatro horas por grupos armados ligados ao chavismo ao chegar ao aeroporto da Ilha de Margarita, no norte do país. "Já saímos (...) Ficamos quatro horas cercados por grupos armados do governo", disse Capriles em um vídeo exibido na rede social Periscope. O ex-candidato à presidência responsabilizou diretamente o presidente Nicolás Maduro pelo incidente no aeropuerto internacional Santiago Mariño, no Estado de Nueva Esparta, ao acusá-lo de "buscar um morto". "É muito grave o que fez o governo de Maduro", completou Capriles.
Leia mais colunas de Léo Gerchmann
Reportagem especial sobre a Venezuela 1
Reportagem especial sobre a Venezuela 2
Reportagem especial sobre a Venezuela 3
Em vídeo, o que vimos na Venezuela
A denúncia foi feita dias depois de um protesto contra o presidente Maduro em Villa Rosa, periferia de Porlamar, maior cidade de Margarita.
Quatro horas antes, Capriles havia divulgado vídeo no qual alertava que estava sitiado por "grupos armados do governo, encapuzados (...) Aqui há pessoas, há crianças, não sou apenas eu". Explicou que negociou com as autoridades aeroportuárias a saída das pessoas que estavam retidas no local, mas que ele permaneceu no aeroporto ao lado de deputados e prefeitos opositores.
Entre sexta-feira e sábado, 30 pessoas foram detidas após o protesto contra Maduro em Villa Rosa. Todas foram libertadas, com exceção do jornalista chileno-venezuelano Braulio Jatar, que justificou a abertura de uma campanha pela Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP, na sigla em espanhol).
O número dois do chavismo, Diosdado Cabello, negou as acusações de Capriles.
"Como ninguém dá importância, denuncia que está sendo perseguido. Está escutando vozes. Quem vai persegui-lo?", questionou Cabello, com ironia e claro desrespeito a um adversário, em seu programa semanal na televisão estatal.